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As – muitas – pernas curtas da mentira

Posted on: March 8, 2008


Jehozadak Pereira 

Aquela cena corriqueira do comercial de cerveja na televisão que mostra um grupo de pessoas sorridentes em volta de uma garrafa, é a mais pura expressão da mentira. Mentira porque ninguém pode ser feliz bebendo. Mas ao colocar pessoas sorridentes e aparentemente felizes ao ingerir álcool, quer se fazer pensar que é possível alcançar o que eles têm ali naquele instante. Uma pessoa ouve, lê e vê mais de duzentas mentiras por dia – uma a cada cinco minutos. Excluindo-se ai os períodos eleitorais.

É comum ouvirmos no convívio de outras pessoas – cristãos inclusive – que uma mentirinha, aqui ou ali não faz mal nenhum, ou ainda àqueles que afirmam proferir somente as “mentiras brancas” – não há mentiras brancas, nem pretas ou muito menos coloridas, nem “mentirinha”, o que há sim, é mentira deslavada. Dizem a outra pessoa que “o corte de cabelo ficou ótimo”, quando na realidade detestaram, ou ainda que o trânsito estava um “horror” quando perdem a hora. A mentira traz prejuízo material ou moral e se multiplica de forma assustadoramente geométrica.

Nas eleições presidenciais americanas de 1960, John Kennedy tinha como adversário Richard Nixon – notório mentiroso. Afirmar que Nixon era mentiroso poderia parecer ofensivo e desrespeitoso para com ele e com o povo americano. O que fizeram então os publicitários? Espalharam por todo os EUA cartazes com a célebre frase – Você compraria um carro usado deste homem? E abaixo da foto de Nixon a frase “Nixon is a tramp” – literalmente algo como trapaceiro, vagabundo, vigarista.

Kennedy ganhou a eleição. Nixon seria eleito presidente dos EUA em 1968 e reeleito em 1972, e tornou-se o primeiro mandatário americano a ter de renunciar para não ser cassado por causa da mentira.

Políticos e atores se equivalem na capacidade de mentir, e o fazem por necessidade profissional. A mentira política nasceu como irmã gêmea da democracia na Grécia antiga. Em outras situações, a mentira diminui e macula a alma. Mas ela é permitida quando é proferida no interesse do Estado, escreveu o filósofo grego Platão, que viveu no século IV AC.

Joseph Goebels, o mentor da propaganda nazista na Segunda Guerra Mundial, afirmava que “mentiras repetidas tantas quantas vezes necessárias, tomariam ares de verdade”. E governantes tem mentido ao longo da história da humanidade sem o menor pudor. Foi assim com o governo dos Estados Unidos, nos anos 60, de envolver-se militarmente cada vez mais no Vietnã, mesmo sabendo que a guerra não poderia ser vencida. Naquela ocasião e nos trinta anos seguintes, falou-se a mentira oficial de que os relatórios diziam que os inimigos comunistas estavam prestes a serem esmagados. São mentiras usadas para esconder ações bárbaras.

Mas o que fazer quando a mentira está dentro de casa, da igreja, da instituição que freqüentamos? Cientistas dizem que todos mentem, é só ver a afirmação no começo desta matéria de que ouvimos uma mentira a cada cinco minutos do nosso dia, e veja que passamos pelo menos oito horas diárias dormindo. E por que aceitamos a mentira? Na imensa maioria das vezes não temos como aferir se aquilo que estamos ouvindo é verdade e somos obrigados a aceitar a palavra do outro como verdadeira. Um mentiroso é, às vezes, difícil de ser desmascarado, principalmente se ele teve o tempo adequado para preparar a mentira.

Um aluno que mente sobre a nota baixa tirada na última prova, primeiro para não ser repreendido pelos pais, e depois para se vangloriar diante dos colegas. Ainda aquele outro que na hora da prova cola descaradamente com o objetivo de tirar uma nota melhor do que tiraria normalmente. Outros mentem como mecanismo de defesa – se contarem a verdade – pensam eles, serão tidos por fracos e indecisos. Da mulher que mente escondendo a idade, ao homem que precisa de reconhecimento por algo que não fez diante de todos.

Muitas vezes a mentira prejudica ao próprio mentiroso, que mente por tantas razões que nem sabe ao certo cada uma delas. Não se acanhe e, nem se envergonhe de dizer não a um mentiroso. Lembre-se, se você não o desmascarar ele vai mentir de novo… pois esta é a vida dele.

Um mentiroso contumaz, precisa estar sempre lembrando o que foi que mentiu ontem, para não entrar em contradição hoje, o que denota que a mentira tem pernas curtas. Curtíssimas.

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