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Jehozadak Pereira

Escrevi esta série especial sobre inveja uns anos atrás e são sempre atuais pois o que não falta no mundo é gente invejosa. Para ler os textos clique nos respectivos títulos e novas janelas vão abrir com o texto

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Jehozadak Pereira

Continuando com a publicação dos 10 artigos e textos mais acessados do blog desde a sua criação, publico hoje ‘E quando sentimos inveja?’

Quantas vezes você já ouviu ao longo da sua vida a frase “inveja santa”? Certamente muitas vezes. Mas a inveja não é, nunca foi e jamais será santa. E por quê? Como pode ser santa algo que nasceu no coração de Lúcifer? Que foi o motivo da defenestração dele. Não há como justificar que a inveja, sob qualquer pretexto ou motivo seja santa.

Mas por que sentimos inveja? Ou melhor o que fazer quando sentirmos inveja?

A Bíblia nos alerta acerca disto. Vamos começar por Asafe, o salmista. No Salmo 73.3-14 ele diz “Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos. Para eles não há preocupações, o seu corpo é sadio e nédio. Não partilham das canseiras dos mortais, nem são afligidos como os outros homens. Daí, a soberba que os cinge como um colar, e a violência que os envolve como manto. Os olhos saltam-lhes da gordura; do coração brotam-lhes fantasias. Motejam e falam maliciosamente; da opressão falam com altivez. Contra os céus desandam a boca, e a sua língua percorre a terra. Por isso, o seu povo se volta para eles e os tem por fonte de que bebe a largos sorvos. E diz: Como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no Altíssimo? Eis que são estes os ímpios; e, sempre tranqüilos, aumentam suas riquezas. Com efeito, inutilmente conservei puro o coração e lavei as mãos na inocência. Pois de contínuo sou afligido e cada manhã, castigado”.

1 João 2.16 “… porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo”.

Notem que Asafe era de fato um servo do Senhor, mas creio que exausto ou enfadado por alguma circunstância especial ele se ressente de fazer tudo corretamente. E vai desfiando num lamentar as causas da prosperidade dos ímpios. Asafe explicita o contraste entre as suas aflições e os benefícios dos ímpios.

Algumas vezes nossa tendência é a de ser piegas e perguntar – por que eu que sou honesto, decente, trabalhador, cumpridor de todos os meus compromissos, dizimista fiel, cooperador diligente da obra do Senhor, bom pai, bom marido, boa esposa, boa mãe, filho ou filha exemplar, e não progrido? Enquanto isto eu vejo ao meu lado o ímpio, o incrédulo, o homem ou a mulher que dá os piores exemplos progredir, prosperar, adquirir bens e riquezas, comprar a sua casa, o seu carro, ser feliz, viajar, cumular para si coisas inimagináveis?

Aqui existem duas situações. Uma delas é sentir inveja dos ímpios. Outra de sentir inveja dos nossos irmãos em Cristo. Ambas são execráveis e desprezíveis.

Um dos nossos grandes problemas é achar que somos preteridos por Deus. Por mais que nos esforcemos não conseguimos ter tudo aquilo que desejamos, mas que nem sempre precisamos. Se pensarmos desta forma e modo entenderemos as razões de Asafe. Não há como duvidar da fidelidade de Asafe. No há como imaginar que o salmista tivesse uma pequena sombra de dúvida no seu coração. Vejam que muitas vezes esta é a nossa reação. Perdemos a noção de fidelidade e a semente da inveja se põe a postos no nosso coração.

Uma coisa é de se notar com relação à inveja: ninguém nasce invejoso. A inveja nasce no coração do homem, instala-se e por muitas vezes não é possível desalojá-la de lá. A inveja é como um câncer que se aloja no organismo e vai corromper e contaminar o ser humano, e estamos falando aqui de seres humanos. Aliás, não é possível saber o que nasceu primeiro – o câncer ou a inveja, o certo é que ambos são explosivos e, às vezes, mortais. Ouso dizer que a palavra inveja deveria ser riscada do dicionário do cristão verdadeiro e fiel.

Como é possível detectar se você está sentindo inveja de alguém? Preste atenção nos seus atos e atitudes para com as pessoas a sua volta. Veja nos ambientes onde você convive com outras pessoas, seja na igreja, seja no seu trabalho ou mesmo no convívio familiar. Certa feita, numa determinada igreja, o tesoureiro – homem que trabalhara duro a vida toda e durante muitos anos pagou consórcio de um carro novo sem que ninguém além da sua família e do seu pastor soubesse. Um dia qualquer ele foi contemplado e no domingo seguinte ele estacionou o seu automóvel último tipo na porta da congregação. Queixos caíram, rostos se viraram para contemplar com admiração a nova aquisição. Porém, muitos torceram o nariz, e olhares trocados entre alguns diziam tudo – onde ele havia arrumado dinheiro para comprar aquele carro? Entres estes estava o seu melhor amigo, ou melhor um amigo de longa data. No coração deste amigo estava plantada a semente da inveja, e ao final daquele ano, ele foi um dos que exigiram uma análise detalhada nas finanças da igreja.

Vejam que este amigo tinha toda a liberdade para perguntar ao tesoureiro como foi que ele havia comprado o carro, mas optou por dar vazão ao sentimento pérfido da inveja. Tempos depois um dos seus filhos veio com a notícia de que o carro do amigo havia sido adquirido num consórcio, mas era tarde para ele, a amizade já não era a mesma de tempos atrás.

A inveja finge, dissimula, falseia – vejam o caso acima, houve a opção deliberada pela desconfiança com o carro comprado pelo amigo, que era tesoureiro da igreja. A inveja põe uma máscara intransponível de indiferença que ao longo dos anos se torna irremovível. Uma das faces desta máscara é a do desmerecimento dos méritos ou conquistas alheias. É aí que aparece a inveja.

A máscara ou dissimulação do sentimento da inveja é um dos recursos que o invejoso usa para esconder a sua prática. Em alguns casos nas nossas igrejas, a dissimulação ou máscara pode vir em forma de espiritualidade. Você já viu quando um irmão ou irmã se diz mais espiritual que outro? Quando ele se gaba de ter um dom que o outro não tem? Ou quando ele se acha melhor que o outro na execução de alguma tarefa ou função.

Raramente, em casos como este o invejoso vai deixar transparecer o seu sentimento.

Ao querer competir com o outro, o invejoso vai sempre se sobressair vencedor – mesmo que não esteja em jogo absolutamente nada, mesmo que não haja competição alguma.

Somos pessoas razoáveis, e não há dúvida alguma disto. Mesmo sendo idôneos, nos é por vezes difícil admitir que temos alojado em nós determinados sentimentos, entre eles a inveja, e mais ainda quando nos entristecemos com o êxito alheio. Muitas vezes nos sentimos os piores, os incapazes, os derrotados com o sucesso daquele que nos rodeia, nos cerca, na igreja, no trabalho ou na família.

Surge então o sentimento de raiva, de ira, que se apossa do invejoso, fazendo com que ele se sinta merecedor da conquista do outro, ele vai achar que o seu território pessoal foi invadido e não admite a sua inércia ou incapacidade. Logo ele vai estar boicotando, fofocando, preparando armadilhas para destruir o outro, sempre querendo provar que ele é que fato capaz, e que o outro é na realidade um impostor e um usurpador.

Salmos 68.16 – “Por que olhais com inveja, ó montes elevados, o monte que Deus escolheu para sua habitação? O SENHOR habitará nele para sempre”. A habitação do teu próximo é melhor que a tua? Aceite isto, porque Deus assim o permite e quer.

Este processo do crente sentir inveja não é percebido facilmente, e ele busca principalmente a desestabilização espiritual e pessoal.

Provérbios 24.1 – “Não tenhas inveja dos homens malignos, nem queiras estar com eles”. Já observou a sua volta? Viu se existem homens “populares”, homens que vivem cercados por outros, que parecem felizes, mas na realidade são pecadores empedernidos, que vivem de fazer o mal a todos? Conta-se a história de determinado governante, que tinha uma fama muito ruim. Um dia ele disfarçou-se de mercador e saiu para saber o que pensavam dele os seus súditos. Numa vila distante, bateu numa porta pedindo comida e água. Foi acolhido em uma casa simples, porém aconchegante. Pôde então notar as feições tranqüilas dos donos da casa, pôde ver que ele era um homem feliz e realizado. Ao servir o jantar ele tinha ao seu lado os seus filhos e empregados, todos sentados na comprida mesa. Viu também que todos respeitavam o homem, e chamou-lhe a atenção o tratamento que a esposa dedicava a ele.

Lá pelas tantas, o viajante perguntou qual era a opinião do dono da casa a respeito do seu governante maior. Perguntou-lhe se ele não sentia inveja do rei. O homem respondeu então que não e lhe mostrou o que estava escrito em Provérbios 24.1. Por que motivo ele teria de ter inveja de um homem maligno?

Maligno?

Então esta era a imagem que o povo tinha do seu governante? Anos depois um rei mudado e temente a Deus mandou que lhe levassem a presença aquele homem, pois queria que ele visse a mudança na sua vida.
 Provérbios 24.19 – “Não te aflijas por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos perversos”.

A Bíblia alinhava uma série de advertências para que nós como crentes, não sintamos inveja ou mesmo que admiramos o ímpio. Como crentes e filhos escolhidos de Deus, não temos o direito de “espichar” o olho para o nosso próximo. A palavra de Deus é bem clara em muitos aspectos e um deles é o que fala sobre inveja. Na vida do crente não deve haver lugar para a inveja. Provérbios 16.18 – “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda”. Um dos grandes problemas do homem é a soberba.

Soberba que junto com a inveja leva o homem ao buraco do sofrimento e da angústia.

Mas como evitar a inveja? Vejamos em Salmos 119.11 – “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti”. Somente esta atitude de guardar a palavra do Senhor no coração é que se torna possível refutar e recusar ter inveja de alguém.

Marcos 7.22 – “A avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura”.

Romanos 1.29 – “Cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores…”.

Gálatas 5.26 – “Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros”.

1 Timóteo 6.4 – “É enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas”.

Tito 3.3 – “Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros”.

Tiago 3.14 – “Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade”.

Tiago 3.16 – “Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins”.

Crente, em Cristo Jesus, não deixe que a inveja ou qualquer outro sentimento faccioso, antagônico ou ardiloso se aloje em seu coração. Repreenda, resista e refute qualquer sentimento destes, especialmente o da inveja, pois como ficou demonstrado a inveja vem direto do coração de Lúcifer.

Jehozadak Pereira

Em janeiro de 2012 publiquei este post com uma série de artigos sobre inveja que tem ajudado muita gente a lidar com os invejosos de plantão. Sugiro como leitura a cada um.

 

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Jehozadak Pereira

A dor que o invejoso sente é subjetiva e ao mesmo tempo real

“Podemos descrever o nosso ódio, os nossos medos, as nossas vergonhas. Mas não a nossa inveja” – Francesco Alberoni

A inveja têm sintomas? O que sente o invejoso? Têm dores? Vejamos o que nos diz Provérbios 14.30 – “O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos”. Ossos podres? Notemos o contraste entre o invejoso e o que não sente inveja alguma: o não invejoso tem o coração e a mente tranqüila; é sadio, é equilibrado, é satisfeito, enquanto isto o invejoso tem a mente e o coração deteriorado e corrompido, e a inveja lhe faz tanto mal que ele se sente apodrecendo, deteriorando, putrefato, tudo beirando a insanidade.

A inveja significa um misto de desgosto e ódio provocado pela prosperidade e pelo bem ou felicidade dos outros. Para que alguém fique desgostoso é preciso um motivo muitíssimo forte. Que tal a inveja? Se nos reportarmos ao caso de José e seus irmãos, vamos ver que a simples presença de José num ambiente comum a todos eles era motivo mais que suficiente para que houvesse a irritação e o desgosto deles.

Ossos podres. Para que um osso, que é o componente mais forte do corpo humano possa se corromper, é necessário que a pessoa morra e então os ossos se tornarão em pó. Mas ossos podres em vida? É possível isto? Sim, conforme nos atesta o texto lido em Provérbios 14.30. Tal como um poderoso ácido, a inveja torna os ossos podres. Isto nos remete a uma outra situação. Conversem com quem já quebrou alguma parte do corpo, ou mesmo fissurou algum osso. A dor é lancinante e insuportável. Até que se conserte a parte lesionada a dor permanecerá. Dizem também que muitas vezes, mesmo depois de “consertada” a fratura, a dor permanecerá por um tempo ainda.

A dor que o invejoso sente é subjetiva e ao mesmo tempo real. A sua dor se originará num caráter fraco e falho e se estenderá desde o seu fio de cabelo até a ponta do pé, a sua dor será cada vez maior, e contaminará tudo a sua volta. A convivência com ele será insuportável.

Alceu* era o diretor executivo da empresa da família, que havia sido fundada por seu avô quase sessenta anos antes. Da empresa de móveis provinha o sustento de todos os familiares de Alceu. Embora seu avô, seu pai e seus tios não tivessem curso superior, fizeram com que os seus filhos cursassem faculdades e universidades. No total eram quinze primos que sempre conviveram harmoniosamente e em relativa paz, excluindo-se aí as rusgas de infância e juventude.

Um dos primos que dividia com ele as tarefas na empresa era Fabrício. Eles eram os melhores amigos um do outro e tinham a mesma idade. Gostavam de jogar futebol, de velejar e coincidentemente casaram com duas irmãs gêmeas. Na época da faculdade fizeram o mesmo curso e especialização.

Após se graduarem, Alceu foi morar na Europa por dois anos, aproveitando uma bolsa de estudos que havia ganhado na faculdade, num trabalho que fizera em conjunto com Fabrício. Em paralelo ao curso de pós-graduação, fez também estágios em algumas empresas fabricantes de móveis na Alemanha e Inglaterra.

A viagem, o estágio e a permanência na Europa haviam feito bem a Alceu. Todos lhe sorriam, inclusive Fabrício. Dias depois de retornar ao seu posto na indústria o primo veio lhe dar as boas vindas.

Ao voltar para o Brasil, trouxe na bagagem além do diploma, um polpudo contrato de representação de móveis de uma das mais tradicionais indústrias da Europa. Igualmente para a admiração de todos apresentou um pedido de alguns milhões de dólares que havia conseguido de lojas da Espanha, França e Bélgica.

Depois de entregar parte da encomenda de móveis, tiraram uns dias de férias juntos com suas esposas e filhos. Tudo ia bem, muito bem.

Um ano depois uma notícia caiu como uma bomba causando comoção em todos – Alceu havia sido assaltado e morto com um tiro ao chegar em casa depois de um dia de trabalho.

O tiro fatal havia lhe acertado o ouvido e ele morreu na hora. Nada havia sido roubado. A rua onde Alceu morava era deserta e com pouca iluminação, ninguém vira nada. Mistério total.

O delegado encarregado de investigar o caso disse sem nenhum medo que o assassinato de Alceu havia sido por vingança. A dedução dele é que ninguém atira na cabeça de alguém para roubar. E uma das observações do delegado foi a de que o tiro havia sido dado com o carro em movimento e com o vidro fechado.

Por que ele havia chegado a esta conclusão? Porque ao tomar o tiro e cair sobre o volante, o carro batera no muro a sua direita, e o vidro da janela que recebera o tiro caíra todo dentro do carro.

Logo, na sua conclusão ninguém atira em alguém com o carro em movimento para roubar, e vai embora sem levar nada, já que o lugar do crime estava deserto naquela hora da noite.

O crime precisava ser esclarecido e do gabinete do governador veio a ordem de que o assassino fosse descoberto a qualquer custo – o governador era casado com uma prima de Alceu e exigiu empenho nas investigações.  A tarefa do delegado estava se mostrando difícil, pois Alceu não tinha inimigos. O delegado ouviu todos os que trabalhavam na indústria. Ouviu ex-empregados, parentes, e os primos que trabalhavam juntos na empresa.

Todos os direitos reservados ao autor.

 

Jehozadak Pereira

Ossos podres

Três meses depois da morte de Alceu, sua mulher foi procurada de novo pelo delegado que quis saber se entre os primos havia ocorrido algum incidente que pudesse ser a causa do assassinato. Nada. Ela não se lembrava de nada. O delegado insistiu e ela de novo respondeu negativamente. Ao sair o delegado disse que se ela se lembrasse de alguma coisa por mais insignificante que fosse que o comunicasse.

Naquela noite ela não dormiu. De repente ela se lembrou de algo que lhe deu calafrios. Havia descoberto o motivo do crime. Ao terminarem a faculdade Alceu e Fabrício haviam feitos juntos o trabalho de conclusão do curso, trabalho que havia dado a Alceu a bolsa de estudos na Europa.

Para os trabalhos que fossem feitos em conjunto ou em grupo, um sorteio determinaria quem teria direito à bolsa de estudos; esta era a regra pré-estabelecida. Em outros cursos da faculdade a mesma coisa havia acontecido.

Na ocasião Fabrício abateu-se e levou meses para se recuperar. Depois daquilo nunca mais foi o mesmo. Deixou de lado o sorriso fácil e sincero para se transformar num homem triste e por vezes amargurado. Muitas vezes deixou de ir trabalhar por ter bebido na véspera e outras vezes deixava o trabalho no meio do dia para ir beber. Esta crise durou quase todo o período em que Alceu estivera fora, e quando esse voltou encontrou Fabrício aparentemente recuperado.

O convívio deles neste período de um ano desde a volta até a morte de Alceu fora de muito trabalho e sem nenhum incidente grave. A exceção foi à festa de aniversário de um dos filhos de Alceu que Fabrício deixou de ir.

Ao convocar Fabrício para depor novamente o delegado fez-lhe as mesmas perguntas da primeira vez, e acrescentou novas questões, desta feita acerca do sorteio e da sua reação à época. Fabrício gaguejou e perguntou se estava detido, e se podia ter a presença de seus advogados.

Finalmente o assassino havia sido descoberto.

Ele havia mandado matar o primo por causa da inveja e de ciúmes. Sentira-se ultrajado e diminuído na ocasião do sorteio. Era ele quem deveria ter ido. Era ele quem deveria ter sido contemplado. Mas não, fora Alceu, e isto ele não podia perdoar. Durante meses ele tramou a morte de Alceu. Decidiu que iria mandar matá-lo, quando voltasse. Não iria perdoar. Faria a coisa perfeita, faria a coisa de modo a não ser incriminado. Planejou cada detalhe, e durante meses buscou quem pudesse executar o crime. Um assassino de aluguel foi contratado e matou Alceu. Vinte dias depois do crime o assassino foi morto numa emboscada por justiceiros. Fabrício pensou que estaria impune definitivamente.

Friamente ele contou ao delegado a história, e como durante todo o tempo alimentou ódio e rancor contra seu primo, narrou como havia dias em que não conseguia se levantar para trabalhar. Mas quando pensava na vingança e de como mataria Alceu, animava-se novamente. Disse uma frase que demonstrou toda a sua frieza – que muitas vezes sentia os seus ossos como que ardendo, queimando, e seu único pensamento quando isto acontecia era o de que o seu “desafeto” morreria.

Deu detalhes de como premeditou a morte de Alceu, e para surpresa do delegado, do escrivão e dos advogados afirmou que faria tudo novamente. Disse ainda que se pudesse matar Alceu dez vezes o faria.

O delegado em mais de vinte anos de profissão jamais vira um caso tão chocante quanto este. Fabrício, mesmo depois de ter mandado matar o seu parente ainda destilava ódio e rancor. O seu olhar era frio e impiedoso. O avô de ambos precisou ser internado com um princípio de enfarte, e a família precisou de anos para se recuperar do ocorrido.

Fabrício foi condenado a vinte anos de prisão e tempos depois, foi morto a golpes de estilete na cadeia onde cumpria pena durante uma rebelião.

Quantos casos semelhantes ao de Alceu e Fabrício se repetiram ao longo da história? Quantos alimentam ódio e rancor mortal por causa da inveja?

O invejoso quer ser o outro, quer ter as coisas do outro, quer possuir o que por direito não lhe pertence, o próximo passo seguinte à inveja é o ressentimento. O ressentimento vai envenenar a alma do indivíduo, de modo que se ele não dominar os seus impulsos, passará a ter desejos de vingança, pois se sentirá ultrajado e infamado na sua personalidade.

O invejoso não se forma de uma hora para outra. Ele vai desenvolvendo a peçonha da inveja ao longo dos anos. A inveja pode estar adormecida no seu interior. O invejoso pode ver qualquer um como seu inimigo pessoal. Pode ser o vizinho que acabou de comprar um carro novo, pode ser o colega de trabalho que recebeu uma promoção, pode ser o amigo que recebeu um elogio, que ele julga ser merecedor. Por vezes o invejoso está tão preocupado com o outro, que ele julga seu oponente que acaba desperdiçando oportunidades, que poderiam fazê-lo crescer e realizar as suas ambições.

O invejoso sempre vai achar que o culpado pelo seu fracasso pessoal é o sucesso alheio. 

O invejoso é carente, dependente e invariavelmente deixa de lado a personalidade tímida para assumir uma máscara de arrogância e prepotência que não vai deixá-lo sair do buraco em que se encontra.

A inveja é um sentimento singular. Na inveja não há pluralidade. O invejoso é furtivo, e nunca vai partilhar o seu (mau) sentimento com ninguém. A inveja é considerada “um mal secreto”. A inveja é uma velha dama indigna, de má reputação e péssimo caráter, sorrateira, capaz de com um simples olhar, murchar plantas e secar pimenteiras.

São Tomás de Aquino abordou a inveja – “tristina de alienis bonnis” – ou seja, ela tem em sua composição a tristeza em relação às coisas boas dos outros. Esse sentimento a contemplação da felicidade alheia destaca. É um sentimento que não mostra a cara, porém destila veneno, fala com maldade disfarça, escamoteia e é traiçoeira.

Não há inveja “boa”. Todo sentimento de inveja é mau e pernicioso. O dicionário Aurélio define a inveja como um desgosto ou pesar pelo bem alheio; desejo de possuir o que o outro tem. O invejoso constantemente se pergunta por que o mundo foi tão “injusto” com ele? Afinal quem merecia as “coisas”, dons, características que o outro possui é ele.

Freqüentemente o invejoso pensa que o outro achou a verdadeira fórmula e receita de felicidade, e que ambas deveriam ser passadas para ele também.

O invejoso chega a conclusão que lhe falta algo. Que há um “vazio” na sua vida, há um buraco que deve ser preenchido com algo.

Este algo é o que o outro tem. É o que o invejoso vai perseguir. Este é o sintoma que ele sente, e que só vai ser suprido se ele se curvar aos pés do Senhor.

* Os nomes são fictícios, baseados em fato real.

Todos os direitos reservados ao autor

 Jehozadak Pereira  

A inveja só é exercida no tangível, ou seja, naquilo que se vê. Raramente alguém vai sentir inveja de quem está longe ou distante. Um homem sempre vai invejar outro homem, uma mulher sempre vai invejar outra mulher. Dificilmente um velho vai sentir inveja de um jovem, o mesmo já não acontece em relação à mulher.

Muitas vezes uma mulher velha tem inveja de uma jovem ou adolescente, porque vai ver nela uma rival em potencial. Logicamente há exceções. Um empresário vai sentir inveja de um outro empresário, um pedreiro vai sentir inveja de um igual, porque vai ver nele um concorrente no seu campo de ação.

Antonio Wilson Honório, foi o melhor companheiro de Edson Arantes do Nascimento. Ficaram conhecidos como Coutinho e Pelé e não Pelé e Coutinho. Jogaram no Santos Futebol Clube por dez anos. Juntos demoliram defesas adversárias, levaram os seus talentos pelos quatro cantos do mundo, por serem negros quando vistos à distância era impossível saber quem era quem. Coutinho encerrou a carreira aos 26 anos de idade por problemas nos joelhos. Pelé continuou a sua com êxitos e mais êxitos. Tempos depois, um melancólico Coutinho deu uma série de entrevistas dizendo que se não fosse ele, Pelé jamais teria chegado aonde chegou, acrescentou que se fosse naqueles dias ele deixaria de dar muitas bolas para que Pelé fizesse tantos gols. Uma vez, procurado para falar de um prêmio que Pelé havia ganhado, disse não ter nada a declarar. E sempre que pode dá demonstrações de desagrado quando o assunto é Pelé.

Nos anos 80, o atletismo americano tinha dois atletas de ponta. Um deles era Edwin Moses e o outro Carl Lewis. Atletas que competiam em modalidades diferentes no atletismo, foram supercampeões, Moses chegou a ganhar mais de 150 provas consecutivas. Mas Lewis não o tolerava, e em algumas provas do circuito internacional, impunha a sua participação ao não convite a Moses. Mesmo depois que Moses parou de competir, Lewis recusava-se a tocar no nome do “rival”.

Antonio Salieri foi um competente e respeitado compositor de mais de 40 óperas e teve como alunos, entre outros, Beethoven, Liszt e Schubert. Mas, alguma coisa não caminhou bem entre Salieri e Wolfgang Amadeus Mozart. Salieri, então começou a sua perseguição pessoal contra Mozart. Usou de calúnia junto ao círculo do poder imperial, difamou, infamou, empurrou para a miséria e envenenou o seu “desafeto” pessoal. A história de ambos foi pesquisada, analisada, estudada e ninguém conseguiu chegar a uma conclusão satisfatória do porquê Salieri perseguia Mozart. Mas o caso é um dos exemplos clássicos do que um invejoso pode fazer com o objeto do seu desejo.

Sandra por algum tempo recebeu ligações telefônicas dizendo que seu marido a traía com diversas mulheres. Que nas viagens profissionais do seu esposo – ele era um requisitado publicitário – sempre havia a companhia de uma mulher. Confrontado, o marido de Sandra sempre negou tudo, dizia que era honesto e fiel, mas as ligações continuavam. Sandra certa vez percebeu um caroço num dos seios, e por recomendação médica submeteu-se a uma biopsia.

A véspera de um feriado prolongado, Sandra recebeu uma ligação do consultório do médico, dizendo que o resultado da biopsia dera positivo. A voz informava que ela era portadora de um tipo raro de câncer, letal em 98% dos casos.

O fim de semana de Sandra foi dos piores, até que no primeiro dia útil subseqüente a notícia, ela descobriu que o caroço no seu seio era benigno e ela não precisava sequer operar. Mas uma coisa a intrigava. Quem teria interesse em desestabilizá-la emocionalmente? Poucas pessoas sabiam do seu problema, ela fez uma relação de quem sabia. Suas duas irmãs, sua cunhada e Taís, sua comadre, amiga de longa data e vizinha.

As ligações informando das infidelidades do marido continuavam. A esta altura, o casamento ia de mal a pior. Brigas e discussões que transformaram a vida do casal num martírio constante e interminável.

Um dos cunhados de Sandra era juiz de direito, e ela contou a ele a respeito das ligações, e do fato que a intrigava profundamente: a ligação do consultório do médico. Carlos, o cunhado, protocolou um pedido de interceptação telefônica, e a companhia providenciou um aparelho – que na época existia para uso restrito – que identificava as chamadas. Perplexa, Sandra descobriu que quem telefonava para a sua casa passando os trotes era Taís, sua comadre, a amiga de longa data e vizinha.

Confrontada Taís revelou o motivo de tudo: inveja. Tinha inveja mortal da amiga. Inveja do casamento dela, dos seus filhos, da sua beleza, das suas roupas, do seu modo de vida. Revelou que se pudesse mataria Sandra, tamanho era o seu ódio por ela. Como não tinha coragem de matá-la, resolveu atormentá-la com os telefonemas. Uma das formas para que isto acontecesse era primeiro acabar com o casamento feliz de Sandra. Taís queria ver a ruína da “inimiga”.

No episódio da ligação do “consultório” do médico, ela chorou junto com Sandra, para depois dentro de casa gargalhar e se alegrar com a tristeza e o abalo emocional da “amiga”. Quase havia conseguido o seu intento.

Normalmente a inveja é exercida onde se pode ver, onde pode se botar o olho. Por isso ela é tangível e palpável. Um jovem, por exemplo, não vai invejar o jogador de futebol que faz sucesso no momento, ou um ator qualquer de telenovelas. Mas inveja o seu vizinho, o colega de classe na escola, o companheiro de trabalho, e por aí adiante.

Coutinho marcou mais de trezentos e setenta gols na sua carreira igualmente vitoriosa, Carl Lewis, ganhou medalhas de ouro em três olimpíadas, Salieri, tinha um talento inato para a música, e cada um há seu tempo e a seu modo fizeram e marcaram história, mas ao se compararem com os seus “rivais” eles se rebaixaram e diminuíram-se diante do outro.

O invejoso é daquele que torce para que o “desafeto”, ao tirar a música no violino, arrebente uma das cordas. Ele às vezes, não vai querer que você morra, ele quer te ver dando vexame, fazendo papelão, que você seja um fiasco, e que todos riam de você. Ele vai tramar e urdir algo que te atrapalhe, e se você não perceber – melhor para ele. Vai mandar uma carta anônima, vai passar um trote telefônico, vai fazer com que a camisa do marido da amiga tenha uma mancha de batom, vai plantar a desconfiança no coração da amiga a respeito da demora do marido.

O jogador de futebol vai achar que o companheiro de time não lhe passa a bola porque não quer que ele faça o gol, o atleta que pratica atletismo, vai desejar que o “rival” tropece no obstáculo, ou que torça o tornozelo e fique inutilizado por um bom período. Por seu turno, o empresário é capaz de mandar um fiscal amigo e corrupto para atazanar a vida do concorrente que fechou um grande contrato.

Ou ainda é sórdido a ponto de “plantar” um funcionário seu na outra empresa para que ele faça sabotagem e atrapalhe a vida do rival. Ouvi uma história interessante sobre inveja nas grandes corporações. Uma das maiores empresas brasileiras de eletro eletrônico destinado ao uso doméstico demitiu todo o departamento de desenvolvimento de produtos – do diretor ao mensageiro – porque eles trabalhavam para o seu concorrente. Você pode afirmar que isto é espionagem industrial, quando na realidade é a inveja praticada com requintes.

No competitivo mercado empresarial, esportivo, artístico, o que mais se vê é gente jogando sujo para fazer com que o outro não obtenha êxito algum. Uma das características da inveja é que ela é eclética. É possível encontrar pessoas invejosas em todas as camadas sociais. Um empresário vai sentir inveja de outro empresário, especialmente se este comprar um avião ou um iate novo. Um jornalista vai corroer-se de inveja pelo texto de outro jornalista, uma atriz vai enfurecer-se contra outra, um vizinho de outro vizinho, um futebolista de outro futebolista, e até pasmem, um mendigo na sua absoluta miséria vai sentir inveja de outro maltrapilho como ele. Raramente, os ídolos da música, do esporte, das artes são invejados, porque são inacessíveis.

O invejoso devia ter como símbolo à serpente rastejante – que precisa estar perto para dar o bote. Não há escapatória. A inveja incorpora a ganância, a avareza, à voracidade, o ciúme e, sobretudo o ódio, escamoteado e surdo. Um ódio que se conserva, se armazena, que é permanente e que não pode ser aplacado. (sic)

A inveja é tão presente e entranhada no ser humano que não escolhe credo, cor, raça, nação, classe social, nível cultural, e não respeita ética, moral e limites. Santo Agostinho definiu bem e definitivamente a inveja. Para ele a inveja é o pecado diabólico por excelência e afirmava: “Da inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia; a alegria causada pela desgraça do próximo e o desprazer causado por sua prosperidade”.

A inveja, infelizmente não respeita nada. Nada mesmo! O homem ou a mulher por melhor que sejam ao se compararem ao outro ou outra, sempre sairão perdendo. E dificilmente se recuperarão da comparação.

Dizem que você pode mexer com a moral de uma pessoa que ela não sente, você pode invadir o bolso e tomar-lhe o dinheiro e você provocará uma reação selvagem às vezes, mas igual a da comparação de similares não há. Ela – a comparação de similares – provoca dor e agonia, tristeza e revolta, rejeição e perda, humilhação e desprezo. Tudo por causa da inveja.

Maldita inveja.

Todos os direitos reservados ao autor – 24.03.2005

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Jehozadak Pereira

Os conflitos familiares se sucedem e acontecem em muitas famílias, inclusive nas nossas. Conflitos que envolvem ódio, rancor, ira e discórdia. A Bíblia nos fala de diversos conflitos familiares. O primeiro e mais famoso é o de Caim e Abel. Outros conflitos são os de Esaú e Jacó. Dos irmãos contra José, dos filhos de Davi. Do filho pródigo e seu irmão.

Você seria capaz de vender o seu irmão para estrangeiros e dizer ao seu pai que ele morreu atacado por feras? (Alguns certamente diriam que sim). Ou então outros responderiam que não conhecemos seus irmãos. Pois os irmãos de José o venderam.

Invariavelmente um conflito familiar passa por duas etapas ou razões primordiais e importantes: ciúmes e dinheiro. Um ou outro. Quando não os dois juntos. Conflito familiar não escolhe classe social, e ninguém está imune a ele. Certamente você tem uma história na sua família. Por vezes pai ou mãe são os fatores que fazem as aparências ser mantidas. Mas quando estes faltam…

Em muitos lares, aniversários, datas especiais e festividades de fim de ano, são comemoradas parcialmente porque irmãos não podem se encontrar no mesmo recinto. Você já presenciou alguma cena destas? Numa determinada família a cada final de ano os pais ceavam cinco vezes seguidas. Cada uma com um filho diferente. O irmão mais velho reclama do segundo, as duas irmãs reclamam uma da outra e o caçula reclama de todos.

Um filho intermediário de uma família numerosa desde pequeno mostrava intolerância para com seus irmãos. Tudo dele era melhor, mesmo que fosse inferior. Seus amigos eram melhores do que os amigos dos seus irmãos. Ciumento com suas coisas, tudo era guardado debaixo de segredos e segredos. Seus olhos por vezes ficavam vermelhos. O que era intolerância pueril, virou arrogância adulta. Sua situação financeira era péssima, pois negócios mal feitos o levaram a quase passar por necessidades. Para ele a culpa de ele estar naquela situação eram dos seus ex-amigos e ex-sócios, que segundo ele o haviam roubado e enganado. O conflito com seus irmãos ainda continuava, pois, beligerante não perdoava nada. Um carro novo, uma viajem, um relógio comprado eram motivos mais do que suficientes para a critica exasperada e continua. Na mesma hora que sorria, hostilizava, numa atitude de passionalismo exacerbada. Mesmo com toda esta carga emocional e de problemas um dos irmãos resolveu que devia ajudá-lo. Depois de muitos anos afastados somente se cumprimentando, mas não sendo inimigos, foi lhe dada a oportunidade de fazer alguns negócios, sobre a tutela do irmão.

O irmão deu carro, dinheiro, roupas, apresentou amigos e clientes, dando a chance de se restabelecer financeiramente. Durante uns poucos meses as coisas pareciam ir bem, mas novamente o ciúme e a inveja falaram mais altos e ele fez o que fizera a vida inteira: indispôs-se com seu irmão. Só que desta vez foi longe demais. O sucesso alheio o maltratava e logo ele revelou o seu verdadeiro eu.

Esta história faz lembrar do episódio da serpente venenosa com a espinha quebrada. Não adianta tratar dela. Tem de deixá-la à própria sorte, se você for cuidar dos ferimentos e ela se curar, cedo ou tarde ela vai te morder. É da índole e do caráter dela. Não há outro jeito.

Você, leitor pode dizer que a misericórdia divina deve superar cada obstáculo destes. É verdade. Mas vá dizer isto a gente que tem o caráter corrompido? Primeiro que o errado nunca vai reconhecer que está errado. Depois porque a arrogância e a empáfia dele jamais vai permitir que ele se humilhe diante dos seus irmãos. Daí o conflito tende sempre a se acentuar cada vez mais. Se tiver dinheiro envolvido na história então…

Qual então é o papel dos pais neste processo todo? O diálogo deve ser exercido de todas as formas e meio. Muitos são incapazes de detectar os conflitos e os sanearem. Não estamos abordando os relacionamentos de pais com filhos, de marido e mulher, ou dos demais graus de parentesco, somente os entre irmãos.

Invariavelmente o conflito familiar entre irmãos tem as suas origens na infância. O pai gosta mais de um do que de outro. A mãe aprecia mais o outro do que o um, e por ai vai. Há filhos que não sentem, mas via de regra ressentem-se pela vida afora.

Em qualquer família tem sempre aquele que se destaca em tudo o que faz, tem aquele que trata aos pais com carinho e atenção, tem aquele que por motivos diversos se retrai, tem o expansivo e o tímido, o que explode por tudo e o que tudo tolera. Tem o sorridente e o que chora por nada. Há pais que tratam os diferentes como iguais e os iguais como diferentes. Há também a questão dos anos que se passam, nem sempre o amoroso da infância é o atencioso na idade adulta, o certo é que por vezes os conflitos familiares nascem nas disputas domésticas por um carrinho, um carinho, um boneco, um pedaço diferente do bolo da mamãe, e atravessa armazenando raízes de amargura e ódio, para descambar em irreversíveis conflitos que jamais serão resolvidos.

Há aqueles casos de que um dos irmãos fez com que a estabilidade financeira da família vá para o buraco, por imprevidência, por causa de negócios mal feitos ou mesmo por imprudência.

Os conflitos familiares são extremamente dolorosos e deixam as suas marcas indeléveis. O grande e crucial problema é que pais não sabem como resolvê-los. Por vezes as tragédias ou dores reaproximam os contendores, mas jamais as relações serão as mesmas, ficará no ar a magoa e a dor. Permanecerá a desconfiança de que quem aprontou uma vez, fará de novo.

O melhor remédio para os conflitos familiares é a oração, é o diálogo, é pai e mãe fazer prevalecer a sua autoridade e impor aos filhos a paz, mostrar-lhes na Bíblia, que o conflito é pecado, e que trará prejuízos espirituais com a conseqüente perturbação do ambiente familiar.

Copyright©2003 – todos os direitos reservados – setembro/2003.

Podemos descrever o nosso ódio, os nossos medos, as nossas vergonhas. Mas não a nossa inveja
Francesco Alberoni

A inveja tem sintomas? O que sente o invejoso? Tem dores? Vejamos o que nos diz Provérbios 14.30 – “O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos”. Ossos podres? Notemos o contraste entre o invejoso e o que não sente inveja alguma: o não invejoso tem o coração e a mente tranqüila, é sadio, é equilibrado, é satisfeito, enquanto isto o invejoso tem a mente e o coração deteriorado e corrompido, e a inveja lhe faz tanto mal que ele se sente apodrecendo, deteriorando, putrefato, e tudo beirando a insanidade.

A inveja significa um misto de desgosto e ódio provocado pela prosperidade e pelo bem ou felicidade dos outros. Para alguém fique desgostoso é preciso um motivo muitíssimo forte. Que tal a inveja? Se nos reportarmos ao caso de José e seus irmãos, vamos ver que a simples presença de José num ambiente comum a todos eles era motivo mais que suficiente para que houvesse a irritação e o desgosto deles.

Ossos podres. Para que um osso, que é o componente mais forte do corpo humano possa se corromper, é necessário que a pessoa morra e então os ossos se tornarão em pó. Mas ossos podres em vida? É possível isto? Sim, conforme nos atesta o texto lido em Provérbios 14.30. Tal como um poderoso ácido, a inveja torna os ossos podres. Isto nos remete a uma outra situação. Conversem com quem já quebrou alguma parte do corpo, ou mesmo fissurou algum osso. A dor é lancinante e insuportável. Até que se conserte a parte lesionada a dor permanecerá. Dizem também que muitas vezes, mesmo depois de “consertado” a fratura, a dor permanecerá por um tempo ainda.

A dor que o invejoso sente é subjetiva e ao mesmo tempo real. A sua dor se originará num caráter fraco e falho e se estenderá desde o seu fio de cabelo até a ponta do pé, a sua dor será cada vez maior, e contaminará tudo a sua volta. A convivência com ele será insuportável.

Alceu* era o diretor executivo da empresa da família, que havia sido fundada por seu avô quase sessenta anos atrás. Da empresa de móveis provinha o sustento de todos os familiares de Alceu. Embora seu avô, seu pai e seus tios não tivessem curso superior, fizeram com que os seus filhos cursassem faculdades e universidades. No total eram quinze primos que sempre conviveram harmoniosamente e em relativa paz, excluindo-se ai as rusgas de infância e juventude.

Um dos primos que dividia com ele as tarefas na empresa era Fabrício. Eles eram os melhores amigos um do outro e tinham a mesma idade. Gostavam de jogar futebol, de velejar e coincidentemente casaram com duas irmãs gêmeas. Na época da faculdade fizeram o mesmo curso e especialização.

Após se graduarem, Alceu foi morar na Europa por dois anos, aproveitando uma bolsa de estudos que havia ganhado na faculdade, num trabalho que fizera em conjunto com Fabrício. Em paralelo ao curso de pós-graduação, fez também estágios em algumas empresas fabricantes de móveis na Alemanha e Inglaterra.

A viagem, o estágio e a permanência na Europa haviam feito bem a Alceu. Todos lhe sorriam, inclusive Fabrício. Dias depois de retornar ao seu posto na indústria o primo veio lhe dar as boas vindas.

Ao voltar para o Brasil, trouxe na bagagem além do diploma, um polpudo contrato de representação de móveis de uma das mais tradicionais indústrias da Europa. Igualmente para a admiração de todos apresentou um pedido de alguns milhões de dólares que havia conseguido de lojas da Espanha, França e Bélgica.

Depois de entregar parte da encomenda de móveis, tiraram uns dias de férias juntos com suas esposas e filhos. Tudo ia bem, muito bem.

Um ano depois uma notícia caiu como uma bomba causando comoção em todos – Alceu havia sido assaltado e morto com um tiro ao chegar em casa depois de um dia de trabalho.

O tiro fatal havia lhe acertado o ouvido e ele morreu na hora. Nada havia sido roubado. A rua onde Alceu morava era deserta e com pouca iluminação, ninguém vira nada. Mistério total.

O delegado encarregado de investigar o caso disse sem nenhum medo que o assassinato de Alceu havia sido por vingança. A dedução dele é que ninguém atira na cabeça de alguém para roubar. E uma das observações do delegado foi a de que o tiro havia sido dado com o carro em movimento e com o vidro fechado.

Por que ele havia chegado a esta conclusão? Porque ao tomar o tiro e cair sobre o volante, o carro batera no muro a sua direita, e o vidro da janela que recebera o tiro caíra todo dentro do carro.

Logo, na sua conclusão ninguém atira em alguém com o carro em movimento para roubar, e vai embora sem roubar nada, já que o lugar do crime estava deserto naquela hora da noite.

O crime precisava ser esclarecido e do gabinete do governador veio a ordem de que o assassino fosse descoberto a qualquer custo – o governador era casado com uma prima de Alceu e exigiu empenho nas investigações. A tarefa do delegado estava se mostrando difícil, pois Alceu não tinha inimigos. O delegado ouviu todos os que trabalhavam na indústria. Ouviu ex-empregados, ouviu parentes, e os primos que trabalhavam juntos na empresa.

Três meses depois da morte de Alceu, sua mulher foi procurada de novo pelo delegado que quis saber se entre os primos havia ocorrido algum incidente que pudesse ser a causa do assassinato. Nada. Ela não se lembrava de nada. O delegado insistiu e ela de novo respondeu negativamente. Ao sair o delegado disse que se ela se lembrasse de alguma coisa por mais insignificante que fosse que o comunicasse.

Naquela noite ela não dormiu. De repente ela se lembrou de algo que lhe deu calafrios. Havia descoberto o motivo do crime. Ao terminarem a faculdade Alceu e Fabrício haviam feitos juntos o trabalho de conclusão do curso, trabalho que havia dado a Alceu a bolsa de estudos na Europa.

Para os trabalhos que fossem feitos em conjunto ou em grupo, um sorteio determinaria quem seria o sorteado que teria direito à bolsa de estudos, esta era a regra pré-estabelecida. Em outros cursos da faculdade a mesma atitude havia sido tomada.

Na ocasião Fabrício abateu-se e levou meses para se recuperar. Depois daquilo nunca mais foi o mesmo. Deixou de lado o sorriso fácil e sincero para se transformar num homem triste e por vezes amargurado. Muitas vezes deixou de ir trabalhar por ter bebido na véspera e outras vezes deixava o trabalho no meio do dia para ir beber. Esta crise durou quase todo o período em que Alceu estivera fora, e quando esse voltou encontrou Fabrício aparentemente recuperado.

O convívio deles neste período de um ano desde a volta até a morte de Alceu fora de muito trabalho e sem nenhum incidente grave. A exceção foi a festa de aniversário de um dos filhos de Alceu que Fabrício deixou de ir.

Ao convocar Fabrício para depor novamente o delegado fez-lhe as mesmas perguntas da primeira vez, e acrescentou novas questões, desta feita acerca do sorteio e da sua reação à época. Fabrício gaguejou e perguntou se estava detido, e se podia ter a presença de seus advogados.

Finalmente o assassino havia sido descoberto.

Ele havia mandado matar o primo por causa da inveja e de ciúmes. Sentira-se ultrajado e diminuído na ocasião do sorteio. Era ele quem deveria ter ido. Era ele quem deveria ter sido contemplado. Mas não, fora Alceu, e isto ele não podia perdoar. Durante meses ele tramou a morte de Alceu. Decidiu que iria mandar matá-lo, quando voltasse. Não iria perdoar. Faria a coisa perfeita, faria a coisa de modo a não ser incriminado. Planejou cada detalhe, e durante meses buscou quem pudesse executar o crime. Um ex-policial militar foi contratado e matou Alceu. Vinte dias depois do crime o assassino foi morto numa emboscada por justiceiros. Fabrício pensou que estaria impune definitivamente.

Friamente ele contou ao delegado a história, e como durante todo o tempo alimentou ódio e rancor contra seu primo, narrou como havia dias em que não conseguia se levantar para trabalhar. Mas quando pensava na vingança e de como mataria Alceu, animava-se novamente. Disse uma frase que demonstrou toda a sua frieza – que muitas vezes sentia os seus ossos como que ardendo, queimando, e seu único pensamento quando isto acontecia era o de que o seu “desafeto” morreria.

Deu detalhes de como premeditou a morte de Alceu, e para surpresa do delegado, do escrivão e dos advogados afirmou que faria tudo novamente. Disse ainda que se pudesse matar Alceu dez vezes o faria.

O delegado em mais de vinte anos de profissão jamais vira um caso tão chocante quanto este. Fabrício, mesmo depois de ter mandado matar o seu parente ainda destilava ódio e rancor. O seu olhar era frio e impiedoso. O avô de ambos precisou ser internado com um princípio de enfarte, e a família precisou de anos para se recuperar do ocorrido.

Fabrício foi condenado a vinte anos de prisão e tempos depois, foi morto a golpes de estilete na cadeia onde cumpria pena durante uma rebelião.

Quantos casos semelhantes ao de Alceu e Fabrício se repetiram ao longo da história? Quantos alimentam ódio e rancor mortal por causa da inveja?

O invejoso quer ser o outro, quer ter as coisas do outro, quer possuir o que por direito não lhe pertence, o próximo passo seguinte a inveja é o ressentimento. O ressentimento vai envenenar a alma do indivíduo, de modo que se ele não dominar os seus impulsos, passará a ter desejos de vingança, pois se sentirá ultrajado e infamado na sua personalidade.

O invejoso não se forma de uma hora para outra. Ele vai desenvolvendo a peçonha da inveja ao longo dos anos. A inveja pode estar adormecida no seu interior. O invejoso pode ver qualquer um como seu inimigo pessoal. Pode ser o vizinho que acabou de comprar um carro novo, pode ser o colega de trabalho que recebeu uma promoção, pode ser o amigo que recebeu um elogio, que ele julga ser merecedor. Por vezes o invejoso está tão preocupado com o outro, que ele julga seu oponente que acaba desperdiçando oportunidades, que poderiam fazê-lo crescer e realizar as suas ambições.

O invejoso sempre vai achar que o culpado pelo seu fracasso pessoal é o sucesso alheio.

O invejoso é carente, dependente e invariavelmente deixa de lado a personalidade tímida para assumir uma máscara de arrogância e prepotência que não vai deixá-lo sair do buraco em que se encontra.

A inveja é um sentimento singular. Na inveja não há pluralidade. O invejoso é furtivo, e nunca vai partilhar o seu (mau) sentimento com ninguém. A inveja é considerada “um mal secreto”. A inveja é uma velha dama indigna, de má reputação e péssimo caráter, sorrateira, capaz de com um simples olhar, murchar plantas e secar pimenteiras.

São Tomás de Aquino abordou a inveja – “tristina de alienis bonnis” – ou seja, ela tem em sua composição a tristeza em relação às coisas boas dos outros. Esse sentimento a contemplação da felicidade alheia destaca. É um sentimento que não mostra a cara, porém destila veneno, fala com maldade disfarça, escamoteia e é traiçoeira.

Não há inveja “boa”. Todo sentimento de inveja é mau e pernicioso. O dicionário Aurélio define a inveja como um desgosto ou pesar pelo bem alheio; desejo de possuir o que o outro tem. O invejoso constantemente se pergunta por que o mundo foi tão “injusto” com ele? Afinal quem merecia as “coisas”, dons, características que o outro possui é ele.

Freqüentemente o invejoso pensa que o outro achou a verdadeira fórmula e receita de felicidade, e que ambas deveriam ser passadas para ele também.

O invejoso chega a conclusão que lhe falta algo. Que há um “vazio” na sua vida, há um buraco que deve ser preenchido com algo.

Este algo é o que o outro tem. É o que o invejoso vai perseguir. Este é o sintoma que ele sente, e que só vai ser suprido se ele se curvar aos pés do Senhor.

* Os nomes são fictícios, baseados em fato real.


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