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Jehozadak Pereira
Rafael têm muitos amigos e amigas no seu perfil no Facebook. Outro dia na balada foi ignorado por um deles e ficou revoltado pois fora adicionado e frequentemente o seu ‘amigo’ postava-lhe mensagens e curtia as suas fotos e atividades. Conversando com a sua namorada deu-se conta de que não era o único naquela situação, pois com ela acontecia a mesma coisa, inclusive com colegas de sala de aula na faculdade, ou seja, eles eram ao mesmo tempo amigos e desconhecidos de gente com quem partilhavam todas as coisas. Read the rest of this entry »
Jehozadak Pereira
Publicado originalmente no www.acheiusa.com
Rafael têm muitos amigos e amigas no seu perfil no Facebook. Outro dia na balada foi ignorado por um deles e ficou revoltado pois fora adicionado e frequentemente o seu ‘amigo’ postava-lhe mensagens e curtia as suas fotos e atividades. Conversando com a sua namorada deu-se conta de que não era o único naquela situação, pois com ela acontecia a mesma coisa, inclusive com colegas de sala de aula na faculdade, ou seja, eles eram ao mesmo tempo amigos e desconhecidos de gente com quem partilhavam todas as coisas.
A partir daquele dia resolveram que as coisas seriam diferentes e somente teriam como amigos aqueles com quem realmente tivessem afinidades e começaram uma limpeza que durou dias até que ficassem somente amigos e parentes. “Tornou-se um hábito das pessoas adicionar qualquer um que lhes peça para ser adicionado e as vezes não nos damos conta de que sequer sabemos quem são ou o que representam de fato”, diz Rafael.
Com a febre do Facebook que originariamente nasceu para ser um pólo de integração dos alunos de Harvard, milhares de pessoas abandonaram os seus perfis no Orkut e uma nova onda aconteceu, pois as redes sociais servem para que as pessoas possam ver e ser vistas independentemente do lugar onde estejam. Também se tornou um método para reencontrar velhas amizades, parentes e sobretudo para interagir com novas pessoas.
Porém, o que deveria ser uma diversão acaba por se tornar uma fonte de preocupação e stress, pois como não há um manual de etiqueta de como se comportar e as pessoas não sabem como agir diante de algumas situações que as vezes tendem a se tornar embaraçosas e preocupantes. A maioria das vezes as pessoas estão ou são solitárias e não tem paciência para cultivar amizades duradouras e é aí que entram as redes sociais.
Em 2009, Eudes Souza, que morava em Boston, Massachusetts aplicou via MSN Messenger um golpe numa brasileira que mora em New Jersey. Adicionada no MSN por Eudes, a mulher não se deu conta de que estava caindo numa armadilha e perdeu aproximadamente US$ 6 mil – parte em dinheiro e parte numa dívida do cartão de crédito. Além disto seu irmão perdeu no Brasil outros US$ 6 mil, já que Eudes afirmava ter um esquema que facilitava a retirada de vistos de trabalho nos EUA. Uma queixa foi prestada numa delegacia de polícia em Governador Valadares e Eudes sequer foi ouvido pela justiça, já que o inquérito policial não deu em nada, ficando a frustração da brasileira que acreditou que Eudes ou ‘Paulo’ como ele se apresentava estava apaixonado por ela.
Tempos atrás uma discussão sobre como agir no caso de encontrar uma pessoa a quem havia excluído do perfil no Facebook. Cumprimentar ou não? “Eu cumprimentaria a todos como sinal de civilidade e boa educação. Manter alguém no Facebook é decisão que não pode abranger a todos os que conhecemos. Cumprimente sim, é mais elegante. Acho que há relacionamentos que não cabem num social network, mas como tudo é relativamente novo, vamos descobrindo à medida que erramos”, disse uma das debatedoras.
Lara – nome fictício se deu mal no ano passado por causa de umas fotos que postou no Facebook. Há 12 anos nos EUA e morando na região de New York, Lara fez de brincadeira umas fotos sensuais com um fotógrafo que é seu amigo no final de 2010. Formada na universidade se candidatou a uma vaga num dos mais respeitados escritórios de advocacia na cidade e ficou com o emprego. Um mês depois foi dispensada por causa as fotos postadas no Facebook e que haviam sido descobertas por investigadores contratados pelo escritório para levantar a vida pregressa dos recém-contratados. De nada adiantou os seus argumentos. “Disse a eles que as fotos eram uma mera brincadeira e que não via maldade alguma nelas, já que estavam abertas para o meu círculo de amizade. Até hoje penso que quem descobriu foi uma determinada pessoa que me adicionou e que jamais conheci ou sabia quem era, só sei que depois disto só adiciono quem realmente conheço e aprendi uma dura lição de que o meu futuro pode ser comprometido por causa de algumas fotos. Fotos, que tirei imediatamente do meu perfil e hoje tenho 50 e poucas pessoas como amigos, mas tenho a certeza de que são realmente meus amigos”, disse.
Dicas para se dar bem
– Se tiver dúvidas sobre quem está te adicionando, não aceite
– Se tiver dúvidas acerca daquela pessoa que você não conhece e que te adicionou, delete-o
– Jamais justifique ter excluído, bloqueado ou não aceitado uma amizade
– Elabore listas específicas e coloque nelas as pessoas conforme seu critério
– O Facebook permite que se bloqueie as suas informações, fotos e postagens
– Jamais coloque em redes sociais informações pessoais como data de nascimento, número de documentos, endereços, relações familiares, trabalho e telefones
– Se for colocar fotos de carros e motocicletas, omita as placas
– Partilhe somente informações com quem você confia de fato
– Não exponha sua intimidade de modo algum
– Não xingue e nem destrate ninguém
– Respeite para ser respeitado
– Não poste spam ou propaganda do seu negócio ou profissão
– Não envie mensagens não solicitadas
– Não clique em links que te enviam. Você pode estar caindo numa armadilha
– Cuidado com as correntes e mensagens de cunho religioso ou político
– Se cansou, delete o seu perfil nas redes sociais
– Não poste e nem escreva nada do qual possa se arrepender mais tarde
– Lembre-se que por mais restrito que esteja o seu perfil, as redes sociais são sim um livro aberto…
A morte de um rato
Posted May 2, 2011
on:Jehozadak Pereira
Agora há pouco Barack Obama anunciou a morte de Osama bin Laden, fundador e principal nome da rede terrorista Al Qaeda. Bin Laden é daqueles homens funestos que quando morrem costuma-se dizer que já foi tarde, principalmente pelas coisas que fez e proporcionou fazer. Certamente um comando americano fez o serviço – bem feito por sinal – e inclusive tem o corpo de bin Laden para provar o que dizem. Em 2003 escrevi este texto que está abaixo e que fala um pouco acerca do que foi e é o terrorismo internacional. Só errei numa coisa – que bin Laden estaria numa toca. Não estava não. Estava numa mansão certamente bem protegido, e pelo que se viu a proteção falhou e ele dançou. Tal como um rato…
O flagelo do terrorismo
Anos atrás, o terrorismo era eminentemente com fins políticos ou de protesto. Setembro Negro e OLP – Organização de Libertação da Palestina – palestinos; Baader-Meinhof – alemão, Brigadas Vermelhas – italiano, IRA – irlandês; Sendero Luminoso – peruano; ETA – basco, Hizbollah – Partido de Deus – libanês; FARC – colombiano entre outros grupos. Alguns destes grupos como Setembro Negro, Baader-Meinhof e Brigadas Vermelhas estão extintos ou já abandonaram a luta armada, e faziam terrorismo circunscrito aos seus países. Muitos foram vitimados por explosões, atentados, seqüestros, assassinatos, assaltos e incontáveis mortes, outros ainda estão na ativa ou optaram pela negociação política para conseguir os seus objetivos.
Hoje o terrorismo têm fins religiosos na maioria das vezes. Novas organizações com dirigentes radicais e fanatizados pela falsa religião, que acreditam piamente que suas causas são nobres e as suas ações são justas.
O jornalista francês Gilles Lapouge afirmou tempos atrás numa brilhante análise que “esses assassinos cegos consideram-se santos, heróis, pessoas sacrificadas, que hoje provocam desgraça com o objetivo de preparar a felicidade de amanhã”.
Os ataques são perpetrados por suicidas que buscam impingir o maior dano possível no lado atacado. Esta tática é muito usada por grupos palestinos que na figura de solitários homens-bombas – considerados “mártires” – explodem em lugares de grande concentração de pessoas. A partir dos anos 90, os atentados terroristas passaram a ser feitos com carros-bombas e o único objetivo é causar o maior número possível de mortes e destruição. Num atentado em 1997, dois terroristas suicidas, transportando cada um 10 quilos de TNT – 100 gramas de TNT é suficiente para explodir uma tonelada de rocha – explodiram seus corpos num mercado em Jerusalém matando 13 pessoas e ferindo 170, muitas com mutilações permanentes.
São milhares de mortos em atentados terroristas, em todo o mundo, e ao que parece este número tende a aumentar nos próximos anos.
Uma nova onda de terrorismo invadiria o mundo apartir da guerra do Afeganistão. Milhares de muçulmanos de vários lugares do mundo se alistaram como voluntários para expulsar os infiéis ateus que invadiram o solo sagrado muçulmano. Deu-se início aí à guerra santa e os alistados passaram a ser chamados de mujahedins ou guerreiros santos. Depois de dez anos de luta, eles venceram, com armas fornecidas pelo ocidente. Entre estes mujahedins estava Osama bin Laden e a história do mundo mudou a partir dele. Frio, calculista, sanguinário, impiedoso e arrogante, bin Laden que é dono de uma imensa fortuna pessoal, colocou tudo isto a serviço de uma causa – impor ao mundo uma nova e mortal ordem – a de matar civis em nome de Deus. Fundador e mentor da Al Qaeda – a Base – bin Laden, foi o mentor do maior ataque terrorista de todos os tempos. Ao atacar o World Trade Center em New York, em setembro de 2001, onde morreram mais de três mil pessoas, e de patrocinar outros atentados nos anos seguintes, bin Laden deu mostras suficientes que se o mundo civilizado permitir ele colocará fogo no planeta em nome de Deus e da sua religião. Para os mujahedins eles são o instrumento e o canal para livrar primeiro a Arábia e depois o mundo dos infiéis. E para isto usam explosivos.
Quando em 1996, bin Laden declarou guerra aos Estados Unidos, ninguém lhe deu muita importância, hoje o mundo vê que ele falava sério. A funesta Al Qaeda, volta e meia da as caras, embora o seu fundador esteja entocado feito um rato numa toca fétida qualquer por lhe falta coragem de colocar a cara de fora, sua vida não vale um tostão furado.
David Wilkerson
Posted April 29, 2011
on:Jehozadak Pereira
Morreu David Wilkerson, autor do best seller ‘A cruz e o punhal’, um livro que marcou a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. ‘A cruz e o punhal’, conta a história do trabalho de Wilkerson com as gangues em New York. O livro embalou muitos dos meus pensamentos e sonhos e a admiração por este grande homem que deixou um legado importante para a humanidade.
Falso brilhante
Posted December 18, 2009
on:Jehozadak Pereira
Há quem prefira os “legítimos” Rolex comprados no Chinatown em New York. Por módicos US$ 200 pode-se comprar um modelo que custa a bagatela de US$ 5 mil. Para quem não conhece, as chamadas cópias alternativas passam por verdadeiras, mas que por mais que se pareçam com os originais não passam de cópias baratas e ordinárias. Quem compra quer mostrar um estatus que não possui, além de ostentar o que não é. Além de fomentar a pirataria que é crime em todos os aspectos, a começar da moral.
As contradições morais da América
Posted March 12, 2008
on:Jehozadak Pereira
PS Escrevi este artigo há alguns meses, e decidi publicá-lo, depois da renúncia de Eliot Spitzer – governador de New York, cuja vida pública foi toda feita em cima da moralidade, e foi desmascarado depois de uma investigação federal que o envolvia com prostituição de luxo. Um comentário? Ô p#*@ que custou caro…
Definitivamente a América é uma nação repleta de contradições e fatos que surpreendem a cada dia. As programações de televisão são repletas de programas de todos os tipos.
Desde o consagrado e esperado American Idol, seriados variados e reality shows de todos os tipos, desde o sempre mau-humorado Paul Teutul Senior com suas tiradas corrosivas e suas motocicletas maravilhosas, até os que retratam decadentes de Hollywood e do show business, incluindo ai os exibicionistas que manipulam animais selvagens, com preferência para serpentes venenosas e de riscos diversos.
Sem contar a eterna predileção pelos fuxico e a fofoca que cerca a vida das celebridades, hoje muito mais exposta por causa dos papparazis que não dão trégua e sossego. Tudo vira notícia de um momento para outro.
Tem também os de furiosas perseguições perseguições policiais que termina invariavelmente com o motorista preso por oficiais raivosos, ou então fazem o maior escarcéu quando apanham algum bêbado mais afoito. Sem contar os policiais que ficam escondidos a espreita de algum motorista que resolve andar mais rápido que o permitido e se dá mal. Nas ruas da América todos os dias milhares de motoristas são parados, multados e presos por infrações menores no trânsito, que transformam a indústria das multas e penalidades num negócio bilionário a cargo do estado, que educa, mas reprime e penaliza sem a menor consideração.
Mesmo com um estado repressor, os Estados Unidos são um dos lugares do mundo onde mais se praticam fraudes de todos os tipos. Roubo de identidade, fraudes contra instituições bancárias e principalmente seguradoras, operadoras de cartões de crédito, ou de falsas instituições de caridades que arrecadam milhões de dólares, mas não distribui um centavo sequer.
É certo que cada vez que um crime deste tipo é descoberto e se consegue prender os seus autores, eles passam uma boa temporada na cadeia; tempo suficiente para refletir no que fizeram.
É interessante notar que a mesma sociedade que assiste a tudo isto, e que não tolera uma infração qualquer no trânsito ou que vigia a vida dos famosos faça a fama de alguns programas de gosto duvidoso e transformem os seus protagonistas em celebridades.
Tempos atrás Don Imus, um radialista branco que trabalhava na rede CBS. Num ataque de verboragia explicíta resolveu xingar as jogadoras de basquete da Rutgers University de New Jersey. O time que é composto de jogadoras negras que foram ofendidas, pelo radialista que perdeu o emprego e os patrocínios que tinha por vausa disto.
Há algumas semanas foi a vez de Duane “Dog” Chapman, um caçador de recompensas, que é o astro de um programa televisivo. O figurino de “Dog” Chapman, da sua mulher e companhia é digna de nota. A impressão que se tem é a de que tanto Chapman quanto a sua mulher esgotaram todo o estoque de água oxigenada da farmácia mais próxima para usá-la nos cabelos. Ambos são um espetáculo a parte, por causa da soberba, da arrogância e da prepotência que empregam na caça de fugitivos das cortes americanas. Além de se vestirem de forma espalhafatosa e única.
“Dog” Chapman derrapou na gramática ao tecer comentários racistas sobre a namorada negra do seu filho Tucker, numa gravação telefônica que foi divulgada. Mesmo pedindo desculpas e dizendo que não é racista ou preconceituoso, o seu programa deixou de ser veiculado pelo canal A&E que cancelou a série toda. A exemplo do que já havia acontecido com Don Imus, patrocinadores cancelaram os seus contratos com “Dog” Chapman, principalmante para não perderem consumidores dos seus produtos, e nem para ter a sua imagem ligada a racistas e preconceituosos.
Perdulária, permissiva, contraditória e conservadora, esta é a melhor definição que se pode ter da América, que aplaude ao mesmo tempo em que condena e deixa de bancar gente do calibre de Imus e Chapman.
Eu tenho um sonho
Posted August 2, 2007
on:I have a dream
Martin Luther King Jr.
1 de dezembro de 1955, Montgomery, Alabama, Sul dos Estados Unidos. Rosa Parks dá sinal e embarca no ônibus que a levaria para casa depois de um dia exaustivo de trabalho. Como na parte de trás havia muita gente, Rosa sentou-se num dos bancos da frente do ônibus. Por causa disto o motorista pediu que ela se levantasse, embora ali houvesse muitos assentos vagos. Rosa recusou-se a levantar e o motorista chamou a polícia que a levou presa. Rosa Parks era mais uma das vítimas da lei de segregação racial que vigorava no Alabama.
Rosa era uma negra.
Por conta da prisão de Rosa houve em Montgomery um boicote à companhia de transportes que durou mais de um ano e que pôs fim à discriminação nos transportes públicos. A frente dos protestos estava Martin Luther King Júnior, que pregava a não-violência como forma de protesto e modo de alcançar o que se desejava.
Martin Luther King Junior, esteve além do seu tempo e foi um batalhador incansável pela causa da integração racial e dos direitos dos negros nos Estados Unidos e seu desejo era uma sociedade americana justa e livre de preconceitos raciais. Era o pastor da Igreja Batista da Avenida Dexter, em Montgomery, Alabama, onde iniciou a sua cruzada pelos direitos civis das minorias.
Em 1956 sua casa foi explodida por uma bomba e uma multidão de negros enfurecidos formou-se em frente à casa, querendo fazer justiça com as próprias mãos aos que injustamente os perseguiam. King, usando sempre da sua política de não-violência, pediu que depusessem as armas e voltassem para suas casas, dizendo o que seria o seu lema: “Devemos responder ao ódio com amor”.
Por conta do seu ativismo e da sua liderança, King foi preso mais de dez vezes, algumas por motivos fúteis como excesso de velocidade, mas na realidade tudo era mero pretexto para o pressionar e fazer calar a sua voz.
Além de ser aprisionado, King era ameaçado de morte em cada lugar que ia, e dizia que se tivesse de morrer pela causa dos direitos civis, morreria. Em 1963 na celebre Marcha sobre Washington proferiu o discurso Eu Tenho um Sonho que serviria de marco definitivo para que os negros americanos conseguissem os seus direitos que eram tolhidos por leis segregacionistas e racistas.
“EU TENHO UM SONHO”
Há cem anos passados, um grande americano, sob cuja simbólica sombra nos encontramos, assinava a Proclamação da Emancipação. Esse momentoso decreto foi como um raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para terminar a longa noite do cativeiro.
Mas, cem anos mais tarde, devemos enfrentar a realidade trágica de que o Negro ainda não é livre. Cem anos mais tarde, a vida do Negro é ainda lamentavelmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação. Cem anos mais tarde, o Negro continua vivendo numa ilha isolada de pobreza, em meio a um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o Negro ainda definha à margem da sociedade americana, encontrando-se no exílio em sua própria pátria. Assim, encontramo-nos aqui hoje para dramatizarmos tal consternadora condição.
Em um sentido viemos à capital de nossa nação para descontar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as palavras majestosas da Constituição e da Declaração de independência, estavam assinando uma nota promissória da qual cada cidadão americano seria herdeiro. Essa nota foi uma promessa de que todos os homens teriam garantido seus inalienáveis direitos à vida, à liberdade e à busca da felicidade.
É óbvio que ainda hoje a América não pagou tal nota promissória no que diz respeito aos seus cidadãos de cor. Em vez de honrar tal compromisso sagrado, a América deu ao Negro um cheque sem fundos; um cheque que foi devolvido com a seguinte inscrição: “fundos insuficientes”. Nós nos recusamos aceitar a idéia, porém, de que o banco da justiça está falido. Recusamos acreditar não existirem fundos suficientes nos grandes cofres das oportunidades desta nação. Por isso aqui viemos para cobrar tal cheque – um cheque que nos será pago com as riquezas da liberdade e a segurança da justiça. Também viemos a este lugar sagrado para lembrar à América da veemente urgência do agora. Este não é o tempo para se dedicar à luxuria da postergação, nem para se tomar a pílula tranqüilizante do gradualismo. Agora é o tempo para que se tornem reais as promessas da Democracia. Agora é o tempo para que nos levantemos do vale escuro e desolado da segregação para o iluminado caminho da justiça racial. Agora é o tempo de abrir as portas da oportunidade para todos os filhos de Deus. Agora é o tempo para levantar nossa nação da areia movediça da injustiça racial para a rocha sólida da fraternidade.
Seria fatal para a nação não levar a sério a urgência do momento e subestimar a determinação do Negro. Este sufocante verão do descontentamento legítimo do Negro não passará até que ocorra o revigorante outono da liberdade e igualdade. 1963 não é um fim, mas um começo. Aqueles que crêem que o Negro precisava apenas se desabafar, e que agora ficará contente como está, terão um rude despertar se a Nação retornar à sua vida normal como sempre. Não haverá tranqüilidade nem descanso na América até que o Negro tenha garantido todos os seus direitos de cidadania. Os turbilhões da revolta continuarão a sacudir as fundações de nossa Nação até que desponte o luminoso dia da justiça.
Existe algo, porém, que devo dizer ao meu povo que se encontra no caloroso limiar que conduz ao palácio da justiça. No processo de ganharmos nosso lugar de direito não devemos ser culpáveis de atos irregulares. Não busquemos satisfazer a sede pela liberdade tomando da taça da amargura e do ódio. Devemos conduzir sempre nossa luta no plano elevado da dignidade e disciplina. Não devemos deixar que nosso criativo protesto degenere em violência física. Sempre e cada vez mais devemos nos erguer às alturas majestosas de enfrentar a força física com a força da alma. Esta maravilhosamente nova militância que engolfou a comunidade negra não deve nos levar a uma desconfiança de todas as pessoas brancas, pois muitos de nossos irmãos brancos, como evidenciado por sua presença aqui, hoje, estão conscientes de que seus destinos estão ligados ao nosso destino, e que sua liberdade está intrinsecamente unida à nossa liberdade. Não podemos caminhar sozinhos.
À medida que caminhamos, devemos assumir o compromisso de marcharmos avante. Não podemos retroceder. Existem aqueles que estão perguntando aos devotados aos direitos civis: “Quando vocês ficarão satisfeitos?” Não podemos ficar satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores incontáveis da brutalidade policial. Não podemos ficar satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados pela fadiga da viagem, não puder encontrar um lugar de descanso nos motéis das estradas e nos hotéis das cidades. Não podemos ficar satisfeitos enquanto a nobreza básica do negro passa de um gueto pequeno para um maior. Não podemos jamais ficar satisfeitos enquanto um Negro no Mississipi não pode votar e um negro em New York crê não existir nada pelo qual votar. Não, não, não estamos satisfeitos, e não ficaremos satisfeitos até que a justiça corra como água e a retidão também, como uma poderosa correnteza.
Não desconheço que alguns de vocês vieram aqui após muitas dificuldades e tribulações. Alguns de vocês recém saíram de diminutas celas de prisão. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade deixou em vocês marcas das tempestades de perseguição e fê-los tremerem pelos ventos da brutalidade policial. Vocês são veteranos do sofrimento criativo. Continuem a trabalhar com a fé de que um sofrimento imerecido é redentor.
Voltem ao Mississipi, voltem ao Alabama, voltem à Carolina do Sul, voltem à Geórgia, voltem à Louisiana, voltem às favelas e aos guetos de nossas modernas cidades, sabendo que, de alguma forma, esta situação pode e será alterada. Não vamos nos esconder no vale do desespero.
Digo-lhes, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento, ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Tenho um sonho que algum dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado de sua crença. “Afirmamos que estas verdades são evidentes; todos os homens foram criados iguais”.
Tenho um sonho que algum dia nas montanhas rubras da Geórgia os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos donos de escravos poderão sentar-se à mesa da fraternidade.
Tenho um sonho que algum dia o estado do Mississipi, um estado deserto sufocado pelo calor da injustiça e opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.
Tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.
Tenho um sonho, hoje.
Tenho um sonho que algum dia o estado de Alabama, cujos lábios do governador atualmente pronunciam palavras de interposição e nulificação, seja transformado para uma condição onde pequenos meninos negros, e meninas negras, possam dar-se as mãos com outros pequenos meninos brancos, e meninas brancas, caminhando juntos, lado a lado, como irmãos e irmãs.
Tenho um sonho, hoje.
Tenho um sonho que algum dia todo vale será exaltado, toda montanha e encosta será nivelada, os lugares ásperos tornar-se-ão lisos, e os lugares tortuosos serão direcionados, e a glória do Senhor será revelada, e todos os seres a verão, juntamente.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com a qual regresso ao sul. Com esta fé seremos capazes de tirar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé poderemos transformar as dissonantes discórdias de nossa nação em uma linda sinfonia harmoniosa de fraternidade. Com esta fé poderemos trabalhar juntos, orar, juntos, lutar juntos, ir à prisão juntos, ficarmos juntos em posição de sentido pela liberdade, sabendo que algum dia seremos livres.
Esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado: “Meu país é teu, doce terra de liberdade, de ti eu canto. Terra onde morreram meus pais, terra do orgulho dos peregrinos, de cada rincão e montanha que ressoe a liberdade”.
E se a América for destinada a ser uma grande nação isto deve se tornar realidade. Que a liberdade ressoe destes prodigiosos planaltos de New Hampshire. Que a liberdade ressoe destas poderosas montanhas de New York. Que a liberdade ressoe dos elevados Alleghenies da Pensilvânia!
Que a liberdade ressoe dos nevados cumes das montanhas Rockies do Colorado!
Que a liberdade ressoe dos picos curvos da Califórnia!
Não somente isso; que a liberdade ressoe da Montanha de Pedra da Geórgia!
Que a liberdade ressoe da Montanha Lookout do Tennessee!
Que a liberdade ressoe de cada Montanha e de cada pequena elevação do Mississipi.
De cada rincão e montanha, que a liberdade ressoe.
Quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar de cada vila e cada aldeia, de cada estado e de cada cidade, seremos capazes de apressar o dia quando todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, com certeza poderão dar-se as mãos e cantar nas palavras da antiga canção negra: “Liberdade afinal! Liberdade afinal! Louvado seja Deus, todo-misericordioso, estamos livres, finalmente!”
Ao optar por não atacar pessoas e sim preceitos e preconceitos segregacionistas e raciais, King mostrou ao mundo que a igualdade era possível, ainda que instigada por ódios incompreensíveis e repugnantes.
Entre todos os prêmios e lauréis que ganhou, o mais importante deles foi o prêmio Nobel da Paz em 1965. Celebrado e respeitado por muitos e odiado por outros – “vergonha para todo o mundo” foi a expressão utilizada por racistas do Sul dos Estados Unidos na ocasião.
Sua cruzada em busca da igualdade foi interrompida em 4 de abril de 1968, com um tiro no rosto dado por um branco na cidade de Memphis no Tennesse. O silêncio da cerimônia fúnebre de King trouxe uma profunda reflexão ao povo americano e impôs ao mundo uma nova ordem na área dos direitos civis. Não se podia matar impunemente – por mais dura que fosse a pena, a morte de King não seria reparada – que buscava direitos iguais para iguais, ainda que diferentes por causa da cor da sua pele, não se podiam transformar um embate num combate.
Não se podia conter ou exterminar uma busca pacífica de igualdade com balas letais, pancadaria e intimidação. Martin Luther King Junior deixou um legado de respeito e de admiração que é seguido por muitos. Na sua sepultura estão gravadas as palavras que ele pronunciou na Marcha Sobre Washington:
“FREE AT LAST, FREE AT LAST;
THANK GOD ALMIGHTY
I’M FREE AT LAST!”
“Enfim livre, enfim livre! Graças a Deus Todo-Poderoso sou finalmente livre!”