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Jehozadak Pereira

Nota: É sempre bom falar do reverendo Martin Luther King, um homem íntegro que estava à frente do seu tempo. Hoje, 21 de janeiro é dedicado a celebrar a sua memória e quando isto acontece gosto de postar este artigo abaixo que escrevi em 2004.

I have a dream

Martin Luther King Jr.

1 de dezembro de 1955, Montgomery, Alabama, Sul dos Estados Unidos. Rosa Parks dá sinal e embarca no ônibus que a levaria para casa depois de um dia exaustivo de trabalho. Como na parte de trás havia muita gente, Rosa sentou-se num dos bancos da frente do ônibus. Por causa disto o motorista pediu que ela se levantasse, embora ali houvesse muitos assentos vagos. Rosa recusou-se a levantar e o motorista chamou a polícia que a levou presa. Rosa Parks era mais uma das vítimas da lei de segregação racial que vigorava no Alabama.

Rosa era uma negra.

Por conta da prisão de Rosa houve em Montgomery um boicote à companhia de transportes que durou mais de um ano e que pôs fim à discriminação nos transportes públicos. A frente dos protestos estava Martin Luther King Júnior, que pregava a não-violência como forma de protesto e modo de alcançar o que se desejava.

Martin Luther King Junior, esteve além do seu tempo e foi um batalhador incansável pela causa da integração racial e dos direitos dos negros nos Estados Unidos e seu desejo era uma sociedade americana justa e livre de preconceitos raciais. Era o pastor da Igreja Batista da Avenida Dexter, em Montgomery, Alabama, onde iniciou a sua cruzada pelos direitos civis das minorias.

Em 1956 sua casa foi explodida por uma bomba e uma multidão de negros enfurecidos formou-se em frente à casa, querendo fazer justiça com as próprias mãos aos que injustamente os perseguiam. King, usando sempre da sua política de não-violência, pediu que depusessem as armas e voltassem para suas casas, dizendo o que seria o seu lema: “Devemos responder ao ódio com amor”.

Por conta do seu ativismo e da sua liderança, King foi preso mais de dez vezes, algumas por motivos fúteis como excesso de velocidade, mas na realidade tudo era mero pretexto para o pressionar e fazer calar a sua voz.

Além de ser aprisionado, King era ameaçado de morte em cada lugar que ia, e dizia que se tivesse de morrer pela causa dos direitos civis, morreria. Em 1963 na celebre Marcha sobre Washington proferiu o discurso Eu Tenho um Sonho que serviria de marco definitivo para que os negros americanos conseguissem os seus direitos que eram tolhidos por leis segregacionistas e racistas.

“EU TENHO UM SONHO”

Há cem anos passados, um grande americano, sob cuja simbólica sombra nos encontramos, assinava a Proclamação da Emancipação. Esse momentoso decreto foi como um raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para terminar a longa noite do cativeiro. 

Mas, cem anos mais tarde, devemos enfrentar a realidade trágica de que o Negro ainda não é livre. Cem anos mais tarde, a vida do Negro é ainda lamentavelmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação. Cem anos mais tarde, o Negro continua vivendo numa ilha isolada de pobreza, em meio a um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o Negro ainda definha à margem da sociedade americana, encontrando-se no exílio em sua própria pátria. Assim, encontramo-nos aqui hoje para dramatizarmos tal consternadora condição.  

Em um sentido viemos à capital de nossa nação para descontar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as palavras majestosas da Constituição e da Declaração de independência, estavam assinando uma nota promissória da qual cada cidadão americano seria herdeiro. Essa nota foi uma promessa de que todos os homens teriam garantido seus inalienáveis direitos à vida, à liberdade e à busca da felicidade. 

É óbvio que ainda hoje a América não pagou tal nota promissória no que diz respeito aos seus cidadãos de cor. Em vez de honrar tal compromisso sagrado, a América deu ao Negro um cheque sem fundos; um cheque que foi devolvido com a seguinte inscrição: “fundos insuficientes”. Nós nos recusamos aceitar a idéia, porém, de que o banco da justiça está falido. Recusamos acreditar não existirem fundos suficientes nos grandes cofres das oportunidades desta nação. Por isso aqui viemos para cobrar tal cheque – um cheque que nos será pago com as riquezas da liberdade e a segurança da justiça. Também viemos a este lugar sagrado para lembrar à América da veemente urgência do agora. Este não é o tempo para se dedicar à luxuria da postergação, nem para se tomar a pílula tranqüilizante do gradualismo. Agora é o tempo para que se tornem reais as promessas da Democracia. Agora é o tempo para que nos levantemos do vale escuro e desolado da segregação para o iluminado caminho da justiça racial. Agora é o tempo de abrir as portas da oportunidade para todos os filhos de Deus. Agora é o tempo para levantar nossa nação da areia movediça da injustiça racial para a rocha sólida da fraternidade. 

Seria fatal para a nação não levar a sério a urgência do momento e subestimar a determinação do Negro. Este sufocante verão do descontentamento legítimo do Negro não passará até que ocorra o revigorante outono da liberdade e igualdade. 1963 não é um fim, mas um começo. Aqueles que crêem que o Negro precisava apenas se desabafar, e que agora ficará contente como está, terão um rude despertar se a Nação retornar à sua vida normal como sempre. Não haverá tranqüilidade nem descanso na América até que o Negro tenha garantido todos os seus direitos de cidadania. Os turbilhões da revolta continuarão a sacudir as fundações de nossa Nação até que desponte o luminoso dia da justiça.  

Existe algo, porém, que devo dizer ao meu povo que se encontra no caloroso limiar que conduz ao palácio da justiça. No processo de ganharmos nosso lugar de direito não devemos ser culpáveis de atos irregulares. Não busquemos satisfazer a sede pela liberdade tomando da taça da amargura e do ódio. Devemos conduzir sempre nossa luta no plano elevado da dignidade e disciplina. Não devemos deixar que nosso criativo protesto degenere em violência física. Sempre e cada vez mais devemos nos erguer às alturas majestosas de enfrentar a força física com a força da alma. Esta maravilhosamente nova militância que engolfou a comunidade negra não deve nos levar a uma desconfiança de todas as pessoas brancas, pois muitos de nossos irmãos brancos, como evidenciado por sua presença aqui, hoje, estão conscientes de que seus destinos estão ligados ao nosso destino, e que sua liberdade está intrinsecamente unida à nossa liberdade. Não podemos caminhar sozinhos. 

À medida que caminhamos, devemos assumir o compromisso de marcharmos avante. Não podemos retroceder. Existem aqueles que estão perguntando aos devotados aos direitos civis: “Quando vocês ficarão satisfeitos?” Não podemos ficar satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores incontáveis da brutalidade policial. Não podemos ficar satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados pela fadiga da viagem, não puder encontrar um lugar de descanso nos motéis das estradas e nos hotéis das cidades. Não podemos ficar satisfeitos enquanto a nobreza básica do negro passa de um gueto pequeno para um maior. Não podemos jamais ficar satisfeitos enquanto um Negro no Mississipi não pode votar e um negro em Nova York crê não existir nada pelo qual votar. Não, não, não estamos satisfeitos, e não ficaremos satisfeitos até que a justiça corra como água e a retidão também, como uma poderosa correnteza. 

Não desconheço que alguns de vocês vieram aqui após muitas dificuldades e tribulações. Alguns de vocês recém saíram de diminutas celas de prisão. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade deixou em vocês marcas das tempestades de perseguição e fê-los tremerem pelos ventos da brutalidade policial. Vocês são veteranos do sofrimento criativo. Continuem a trabalhar com a fé de que um sofrimento imerecido é redentor. 

Voltem ao Mississipi, voltem ao Alabama, voltem à Carolina do Sul, voltem à Geórgia, voltem à Louisiana, voltem às favelas e aos guetos de nossas modernas cidades, sabendo que, de alguma forma, esta situação pode e será alterada. Não vamos nos esconder no vale do desespero. 

Digo-lhes, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento, ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano. 

Tenho um sonho que algum dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado de sua crença. “Afirmamos que estas verdades são evidentes; todos os homens foram criados iguais”. 

Tenho um sonho que algum dia nas montanhas rubras da Geórgia os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos donos de escravos poderão sentar-se à mesa da fraternidade. 

Tenho um sonho que algum dia o estado do Mississipi, um estado deserto sufocado pelo calor da injustiça e opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça. 

Tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. 

Tenho um sonho, hoje. 

Tenho um sonho que algum dia o estado de Alabama, cujos lábios do governador atualmente pronunciam palavras de interposição e nulificação, seja transformado para uma condição onde pequenos meninos negros, e meninas negras, possam dar-se as mãos com outros pequenos meninos brancos, e meninas brancas, caminhando juntos, lado a lado, como irmãos e irmãs. 

Tenho um sonho, hoje. 

Tenho um sonho que algum dia todo vale será exaltado, toda montanha e encosta será nivelada, os lugares ásperos tornar-se-ão lisos, e os lugares tortuosos serão direcionados, e a glória do Senhor será revelada, e todos os seres a verão, juntamente. 

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com a qual regresso ao sul. Com esta fé seremos capazes de tirar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé poderemos transformar as dissonantes discórdias de nossa nação em uma linda sinfonia harmoniosa de fraternidade. Com esta fé poderemos trabalhar juntos, orar, juntos, lutar juntos, ir à prisão juntos, ficarmos juntos em posição de sentido pela liberdade, sabendo que algum dia seremos livres. 

Esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado: “Meu país é teu, doce terra de liberdade, de ti eu canto. Terra onde morreram meus pais, terra do orgulho dos peregrinos, de cada rincão e montanha que ressoe a liberdade”. 

E se a América for destinada a ser uma grande nação isto deve se tornar realidade. Que a liberdade ressoe destes prodigiosos planaltos de New Hampshire. Que a liberdade ressoe destas poderosas montanhas de New York. Que a liberdade ressoe dos elevados Alleghenies da Pensilvânia! 

Que a liberdade ressoe dos nevados cumes das montanhas Rockies do Colorado!

Que a liberdade ressoe dos picos curvos da Califórnia! 

Não somente isso; que a liberdade ressoe da Montanha de Pedra da Geórgia!  

Que a liberdade ressoe da Montanha Lookout do Tennessee! 

Que a liberdade ressoe de cada Montanha e de cada pequena elevação do Mississipi. 

De cada rincão e montanha, que a liberdade ressoe. 

Quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar de cada vila e cada aldeia, de cada estado e de cada cidade, seremos capazes de apressar o dia quando todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, com certeza poderão dar-se as mãos e cantar nas palavras da antiga canção negra: “Liberdade afinal! Liberdade afinal! Louvado seja Deus, todo-misericordioso, estamos livres, finalmente!

Ao optar por não atacar pessoas e sim preceitos e preconceitos segregacionistas e raciais, King mostrou ao mundo que a igualdade era possível, ainda que instigada por ódios incompreensíveis e repugnantes.

Entre todos os prêmios e lauréis que ganhou, o mais importante deles foi o prêmio Nobel da Paz em 1965. Celebrado e respeitado por muitos e odiado por outros – “vergonha para todo o mundo” foi a expressão utilizada por racistas do Sul dos Estados Unidos na ocasião.

Sua cruzada em busca da igualdade foi interrompida em 4 de abril de 1968, com um tiro no rosto dado por um branco na cidade de Memphis no Tennesse. O silêncio da cerimônia fúnebre de King trouxe uma profunda reflexão ao povo americano e impôs ao mundo uma nova ordem na área dos direitos civis. Não se podia matar impunemente – por mais dura que fosse a pena, a morte de King não seria reparada – que buscava direitos iguais para iguais, ainda que diferentes por causa da cor da sua pele, não se podiam transformar um embate num combate.

Não se podia conter ou exterminar uma busca pacífica de igualdade com balas letais, pancadaria e intimidação. Martin Luther King Junior deixou um legado de respeito e de admiração que é seguido por muitos. Na sua sepultura estão gravadas as palavras que ele pronunciou na Marcha Sobre Washington:

“FREE AT LAST, FREE AT LAST;

THANK GOD ALMIGHTY

I’M FREE AT LAST!”

“Enfim livre, enfim livre! Graças a Deus Todo-Poderoso sou finalmente livre!

 

 

Jehozadak Pereira

Hoje, 20 de abril, o presidente Barack Obama repetiu o gesto histórico de Rosa Parks. Publiquei este texto originalmente em 2007.

Nestes tempos bicudos onde neonazistas idiotas se infiltram em torcidas de futebol, e o presidente russo dá demonstração de racismo exacerbado, é sempre bom lembrar de Rosa Parks, que com obstinação derrotou o preconceito e a intolerância.

Nos anos 50, os negros sofriam com estas leis que impunham restrições a quase tudo, e viver uma vida normal era dificultoso. Bares, lojas e restaurantes não aceitavam a presença de negros em possibilidade alguma. Nos poucos locais que permitiam uma convivência entre brancos e negros, quando um branco entrava, o negro era obrigado a sair. Havia banheiros públicos para brancos e negros. A Ku-Klux-Klan atacava e martirizava impiedosamente, queimando casas e igrejas, espancando e espantando sob os olhares complacentes dos governantes.

Embora a escravidão tivesse sido abolida em setembro de 1862, os negros continuavam escravos de leis que lhes impunham um jugo pesado e sufocante. Suas casas ficavam em bairros às margens das cidades e raramente podiam aventurar-se sem o temor de serem capturados e presos, pois qualquer pretexto era motivo de irem parar nas cadeias dos Condados.

No dia 1º de dezembro de 1955, Rosa Parks dá sinal e embarca no ônibus que a levaria para casa depois de um dia exaustivo de trabalho. Como na parte de trás, destinada aos negros, havia muita gente, Rosa sentou-se num dos bancos da frente do ônibus, exclusiva dos brancos. Por causa disso o motorista pediu que ela se levantasse, embora ali houvesse muitos assentos vagos. Rosa recusou-se a levantar, discutiu, e o motorista chamou a polícia que a levou presa.

A população negra de Montgomery, no Alabama, a cidade de Rosa Parks, iniciou um boicote às companhias de ônibus que durou 381 dias, causando um prejuízo de mais de U$ 1 milhão à época, até que, em novembro de 1956, a Suprema Corte declarou inconstitucional a lei de segregação racial dentro dos ônibus no Alabama. Este episódio vivido por Rosa Parks foi a partida de um movimento maior encabeçado pelo Reverendo Martin Luther King Junior, que tomou proporção nacional, fazendo de King, vencedor do prêmio Nobel da Paz em 1965. Muitos dizem que sem a sua ação no caso de Parks, King jamais alcançaria a notoriedade e sucesso na sua luta pelo fim da segregação racial, da forma como foi, e ele reconhecia isso.

Longe de ser uma oportunista, Rosa Parks teve a oportunidade de ficar conhecida como a mãe dos movimentos dos direitos civis, pois ao se recusar a continuar sendo discriminada, ela mostrou toda a sua inconformidade com aquela situação. O mundo e especialmente os negros americanos, devem, a Rosa Parks, um importante progresso de consciência política e humanitária. Em 1956 Rosa Parks impetrou ação contra o governo americano por discriminação, e sua vitória no processo foi um marco importante na história dos direitos civis americanos.

Muitas outras mulheres fizeram e fazem, no dia-a-dia, história com suas atitudes e seu comportamento, e mereceriam linhas e mais linhas contando suas vidas.

Alguns têm a mulher como o sexo frágil, mas qual homem que agüentaria um trabalho de parto? Mulheres são fortes por natureza e – à parte os movimentos feministas que querem direitos iguais para mulheres -, elas têm conquistado seus espaços seja no mercado de trabalho, seja na literatura, seja nas ciências e no cinema, entre outros postos importantes.

Muitos confundem as lágrimas fáceis de uma mulher como sinal de fraqueza ou falta de coragem, quando na realidade elas são a prova de que a mulher é emotiva, quando o homem é racionalismo puro, e para quem o choro é demonstração de fragilidade.

Numa entrevista em 1996, Rosa Parks afirmou que não achava direito e justo ser maltratada por quem quer que fosse e, naquela tarde de 1955, pensava que atitudes sua mãe e avó tomariam em seu lugar. Elas eram mulheres fortes e certamente se insurgiriam como ela o fez. Rosa tinha um histórico de recusas e humilhações na vida, pois diversas vezes tentara se registrar como eleitora e era sistematicamente recusada. Uma das suas afirmações era a de que se pagava o preço exigido para andar no ônibus, ela queria direitos iguais aos dos brancos, e não ser mais humilhada, como conta no livro Quiet Strength – Zondervam Publishing House, 1994.

Quando enfrentou o motorista branco do ônibus, Rosa Parks não chorou, olhou nos olhos dele e ele, envergonhando, desviou o olhar, preferindo chamar a polícia. Perguntada se faria de novo, ela singelamente respondeu que sim, e talvez antes, se tivesse tido a ousadia e a coragem de sua mãe e avó.

Rosa Parks morreu em 2005 aos 92 anos.

Todos direitos reservados ao autor.

Jehozadak Pereira

Para mim, alguns homens e mulheres entraram para a história do século 20 pelo que fizeram em prol da humanidade. Nelson Mandela, Albert Eistein, Rosa Parks, Martin Luther King Junior e finalmente Steve Jobs, entre outros. Publico aqui uma coletânea dos textos que escrevi sobre Martin Luther King Junior, o homem que ousou sonhar e com isto mudou o modo do mundo de encarar o preconceito e o racismo. Na segunda-feira, 16 é feriado aqui nos EUA onde mais uma vez há de ser lembrado o que este homem importante fez para mudar com sua atitude a visão imoral e indecente que havia. Um tributo a ele portanto. Para ler os textos clique nos links que janelas vão se abrir com os textos.

Martin Luther King Junior

Lição

Eu tenho um sonho

Rosa Parks

Feriado?

Jehozadak Pereira

Escrevi este texto em 2005 e decidi publicá-lo novamente sem alterações pois é atual e desde então a situação piorou bastante. Sempre haverá um cretino e imbecil disposto a discriminar alguém por causa da sua opção pessoal, cor, credo religioso ou ideologia política. Acabei de ler uma reportagem onde um delegado de polícia diz que o neonazismo jamais vai ser extirpado da sociedade. Este é um legado maldito que um homem cruel, insano e diabólico deixou pra a humanidade e o pior é que apesar de haver tanto esclarecimento nos nossos dias, milhões de idiotas imbecilizados pelo preconceito e arrogância fazem disto um modo de vida. Muito triste.  

 

De tempos em tempos uma nova onda de uma velha prática se abate sobre o mundo. O racismo nos últimos anos tem provocado reações indignadas na sociedade e raramente algum ato de preconceito dá em alguma coisa.

Semanas atrás num jogo do Barcelona contra o Zaragoza pelo campeonato espanhol, o camaronês Samuel Eto’o – o melhor jogador africano no ano passado – foi alvo – novamente – de atitudes racistas, e só não abandonou o campo porque foi contido pelos seus companheiros e pelo árbitro da partida.

Para irritar Eto’o, a torcida adversária imitava macacos com gritos e gestos, e o racismo não acontece somente em campos espanhóis, mas em quase toda a Europa. Na Itália, o centroavante Paolo Di Canio, da Lázio de Roma, já foi multado duas vezes e suspenso por dois jogos por gestos racistas. Di Canio, que na juventude fazia parte de grupos radicais, é tido como um ídolo da torcida da Lázio que costuma ser saudada por Di Canio com o tristemente célebre gesto nazista do braço esticado.

Aliás, é na Itália, onde mais se vê a presença de neo-nazistas nos estádios portando bandeiras e símbolos do nazismo, além de portarem também símbolos do fascismo de Mussolini.

A sociedade está permeada de gestos racistas, como na novela Belissíma, onde Fladson, o filho da Dona Tosca se enamora de Dagmar, uma negra bonita e desembaraçada. Tosca não concorda com o namoro e faz questão de pedir para N. Senhora da Candelária levar Dagmar para bem longe de Fladson. Num capítulo recente para demonstrar insatisfação com Dagmar, Tosca, passa dois dedos sobre um dos seus braços, para indicar que o problema é de pele.

E foi este gesto que Antonio Carlos, zagueiro do Juventude do Rio Grande do Sul, com passagens por grandes clubes do futebol brasileiro como São Paulo, Palmeiras e Corinthians destratou Jeovânio, volante do Grêmio. O caso teve uma repercussão inesperada e Antonio Carlos foi suspenso por dois meses pela sua atitude.

Foi por causa do racismo que Ghandi se tornou um pacifista, Martim Luther King, um ativista e Rosa Parks um símbolo, e ao invés de diminuir, o que se vê ao longo dos anos é um aumento de atitudes e atos preconceituosos e discriminatórios.

Aqui nos Estados Unidos é comum ver nas ruas manifestações explicitas de racismo e intolerância. Certa feita, Carlos Tércio, um paulistano branco e de olhos verdes, foi preso por estar andando no carro com o seu patrão sem o cinto de segurança. O oficial da State Police que o prendeu mandou que ele tomasse cuidado para não sujar o carro dele que estava limpo. Como sujar o carro se ele não estava com roupas ou sapatos sujos. Na terceira vez que o policial falou isto, ele se deu conta de que ele era a sujeira da qual falava o oficial de polícia, que o ironizava o tempo todo.

Ao pagar a fiança para ser solto, ele perguntou ao policial qual era a razão de ele ter dito aquilo. Escória, foi a resposta para ele, que resolveu não levar adiante uma queixa contra o oficial, que ele descobriu ser descendentes de irlandeses, logo, um imigrante como ele. Conversando com amigos, Carlos descobriu que aquele oficial era famoso nas artes do preconceito, do racismo e da intolerância, e que não perdoava qualquer estrangeiro ou negro que lhe caísse nas mãos. Algumas vezes reclamaram contra ele, mas nunca ninguém provou nada.

Muitas vezes o racismo e o preconceito vem de forma velada, escamoteada, indireta e sempre é negada quando confrontada, e pega desprevenido suas vítimas. Alguns choram, outros reagem e se insurgem contra, mas a maioria deixa barato e por isso mesmo.

Pode-se e deve-se esperar que o racismo e o preconceito tome ares insuportáveis nos próximos anos e torne difícil a vida de muita gente, principalmente os negros. Por mais que as autoridades se esforcem para coibir os abusos eles vão continuar existindo sempre, seja nos estádios de futebol, seja nas novelas, e principalmente no cotidiano de uma multidão de pessoas. Infelizmente.

Jehozadak Pereira

Escrevi este texto em 12 de junho de 2005 e hoje a África do Sul está em festa celebrando a liberdade deste homem que para mim é a grande figura do século 20 ao lado de Martin Luther King Jr e Rosa Parks. Cresci lendo sobre Mandela e vendo a figura de um homem aparentemente amagurado e ressentido. Quando foi libertado, Mandela mostrou que não era nada daquilo, ao contrário era um homem em paz consigo mesmo e com a imensa missão de unificar seu país. Talvez seja por isso é que se tornou um mito vivo, e o mais importante da sua geração.

Madiba

Há homens e homens. Há homens que ao passar pela vida fizeram e fazem história. Nelson Mandela é um destes homens, cuja trajetória – e história – servem de exemplo para gerações inteiras.

O dia 11 de fevereiro de 1990 é histórico para a África do Sul. Neste dia, depois de quase 28 anos confinado numa prisão por sua militância no CNA – o Congresso Nacional Sul-Africano, partido político banido por lutar contra o Apartheid, o regime de segregação racial imposto pela minoria branca, Nelson Mandela, foi libertado.

Para as gerações nascidas depois da década de 60, Nelson Mandela, era apenas um nome e uma foto de um homem com o rosto crispado numa expressão que revelava dureza e rancor. Ao mantê-lo encarcerado apesar dos protestos das nações civilizadas, o governo de Pretória longe de transformá-lo num prisioneiro político, fez dele um prisioneiro de consciência política e um ícone para muitos cidadãos no mundo todo.

A temida e feroz polícia sul-africana poderia ter dado a Mandela mesmo fim que dera a Steve Biko, espancado até a morte no cárcere em dezembro de 1977. Você pode saber da história de Steve Biko assistindo Um grito de Liberdade, ou a tantos outros que matou sem piedade. No entanto, com Mandela as coisas seriam diferentes. Era impensável matá-lo, pois mesmo dentro da prisão a sua voz ressoava no mundo todo. O regime segregacionista havia transformado-o num prisioneiro, mas a humanidade tinha-o como um modelo de tenacidade que lutava pelas liberdades civis do seu povo.

Durante a sua sentença de prisão perpétua, Mandela teve muitas vezes a oferta de liberdade, mas ou eles libertavam todos – entre ele o atual presidente Tabo Mbeki, ou ele permaneceria preso junto com seus companheiros, era a sua resposta costumeira.

Isto constrangia os governantes, a ponto de eles tramarem colocar Mandela porta afora de qualquer jeito. Mas, Mandela resistia. E resistia por saber que isto trazia esperança para o seu povo. Sua porta voz era a sua então mulher Winnie Mandela, que junto com os seus filhos e advogados eram os únicos autorizados a visitá-lo durante os quase 28 anos de prisão.

Ao passo que Mandela se transformava no mais famoso prisioneiro do mundo, o governo aumentava a pressão contra a população negra, a despeito dos boicotes e sanções econômicas impostas ao regime. Nesta época os protestos e manifestações da população negra eram coibidos com pancadaria, tiros e com cachorros que eram treinados para matar negros, além da violência usada a exaustão.

Em 1989 com o início do governo de Frederik de Klerk, houve o reconhecimento de que reformas seriam inevitáveis para que o país não submergisse no caos e numa guerra civil, e em fevereiro de 1990 de Klerk, cancelou a proibição ao CNA, libertou Mandela e os seus companheiros dos longos anos de cárcere.

Quem esperava encontrar um Nelson Mandela ressentido ou rancoroso pelos anos na prisão, deparou-se com um homem alegre, sorridente e disposto a fazer algo em prol da maioria negra. Recebido como um herói pela multidão que cantava Nkose Sikelela – Mama África, o hino nacional, Mandela reafirmou perante a opinião pública mundial a imagem de estadista.

Ao receber o Prêmio Nobel da Paz em 1993 junto com Frederik de Klerk, Mandela abraçou o seu último carcereiro e fez com aquele gesto simbolizasse o perdão dos perseguidos aos seus perseguidores, e afirmou publicamente a sua amizade com de Klerk.

Em 1994 foi eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, com 60% dos votos na primeira eleição democrática naquele país, cargo que ocupou até 1999.

Separou-se de Winnie Mandela, que havia protagonizado um escândalo que envolvia assassinato e casou-se com Graça Machel, viúva de Samora Machel, e dedicou-se a campanha contra o HIV/Aids, que afeta cerca de cinco milhões de sul-africanos.

Recentemente as vésperas de completar 86 anos, Madiba anuncia que vai deixar a vida pública e passar mais tempo com a família, os amigos, completar suas memórias, ler e dedicar-se a uma reflexão mais calma da vida.

“Minha agenda e minha atividades públicas, a partir de hoje, serão muito reduzidas”, disse Mandela durante um evento em Johannesburgo. “Acredito que as pessoas vão entender nossas considerações e nos dar a oportunidade de uma vida mais calma”, afirmou.

Com isto encerra-se um ciclo na vida de Nelson Mandela, que mesmo aprisionado durante quase três décadas, resolveu que não iria guardar rancores ou magoas dos seus algozes, e com isto deu uma lição importante de vida que nos serve de exemplo.

Jehozadak Pereira 

1 de dezembro de 1955, Montgomery, Alabama, Sul dos Estados Unidos. Rosa Parks dá sinal e embarca no ônibus que a levaria para casa depois de um dia exaustivo de trabalho. Como na parte de trás havia muita gente, Rosa sentou-se num dos bancos da frente do ônibus. Por causa disto o motorista pediu que ela se levantasse, embora ali houvesse muitos assentos vagos. Rosa recusou-se a levantar e o motorista chamou a polícia que a levou presa. Rosa Parks era mais uma das vítimas da lei de segregação racial que vigorava no Alabama. Rosa era uma negra.

Por conta da prisão de Rosa houve em Montgomery um boicote à companhia de transportes que durou mais de um ano e que pôs fim à discriminação nos transportes públicos. A frente dos protestos estava Martin Luther King Júnior, que pregava a não-violência como forma de protesto e modo de alcançar o que se desejava.

Martin Luther King Junior, esteve além do seu tempo e foi um batalhador incansável pela causa da integração racial e dos direitos dos negros nos Estados Unidos e seu desejo era uma sociedade americana justa e livre de preconceitos raciais. Era o pastor da Igreja Batista da Avenida Dexter, em Montgomery, Alabama, onde iniciou a sua cruzada pelos direitos civis das minorias.

Em 1956 sua casa foi explodida por uma bomba e uma multidão de negros enfurecidos formou-se em frente à casa, querendo fazer justiça com as próprias mãos aos que injustamente os perseguiam. King, usando sempre da sua política de não-violência, pediu que depusessem as armas e voltassem para suas casas, dizendo o que seria o seu lema: “Devemos responder ao ódio com amor“.

Por conta do seu ativismo e da sua liderança, King foi preso mais de dez vezes, algumas por motivos fúteis como excesso de velocidade, mas na realidade tudo era mero pretexto para o pressionar e fazer calar a sua voz.

Além de ser aprisionado, King era ameaçado de morte em cada lugar que ia, e dizia que se tivesse de morrer pela causa dos direitos civis, morreria. Em 1963 na célebre Marcha sobre Washington proferiu o discurso Eu Tenho um Sonho que serviria de marco definitivo para que os negros americanos conseguissem os seus direitos que eram tolhidos por leis segregacionistas e racistas.

Ao optar por não atacar pessoas e sim preceitos e preconceitos segregacionistas e raciais, King mostrou ao mundo que a igualdade era possível, ainda que instigada por ódios incompreensíveis e repugnantes.

Entre todos os prêmios e lauréis que ganhou, o mais importante deles foi o prêmio Nobel da Paz em 1965. Celebrado e respeitado por muitos e odiado por outros – “vergonha para todo o mundo” foi a expressão utilizada por racistas do Sul dos Estados Unidos na ocasião.

Sua cruzada em busca da igualdade foi interrompida em 4 de abril de 1968, com um tiro no rosto dado por um branco na cidade de Memphis no Tennessee. O silêncio da cerimônia fúnebre de King trouxe uma profunda reflexão ao povo americano e impôs ao mundo uma nova ordem na área dos direitos civis. Não se podia matar impunemente – por mais dura que fosse a pena, a morte de King não seria reparada – que buscava direitos iguais para iguais, ainda que diferentes por causa da cor da sua pele, não se podiam transformar um embate num combate.

Não se podia conter ou exterminar uma busca pacífica de igualdade com balas letais, pancadaria e intimidação. Martin Luther King Junior deixou um legado de respeito e de admiração que é seguido por muitos. Na sua sepultura estão gravadas as palavras que ele pronunciou na Marcha Sobre Washington:

 

“FREE AT LAST, FREE AT LAST;

THANK GOD ALMIGHTY

I’M FREE AT LAST!”

 

“Enfim livre, enfim livre! Graças a Deus Todo-Poderoso sou finalmente livre!”

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Jehozadak Pereira

Nestes tempos bicudos onde neonazistas idiotas se infiltram em torcidas de futebol, e o presidente russo dá demonstração de racismo exacerbado, é sempre bom lembrar de Rosa Parks, que com obstinação derrotou o preconceito e a intolerância.

Nos anos 50, os negros sofriam com estas leis que impunham restrições a quase tudo, e viver uma vida normal era dificultoso. Bares, lojas e restaurantes não aceitavam a presença de negros em possibilidade alguma. Nos poucos locais que permitiam uma convivência entre brancos e negros, quando um branco entrava, o negro era obrigado a sair. Havia banheiros públicos para brancos e negros. A Ku-Klux-Klan atacava e martirizava impiedosamente, queimando casas e igrejas, espancando e espantando sob os olhares complacentes dos governantes.

Embora a escravidão tivesse sido abolida em setembro de 1862, os negros continuavam escravos de leis que lhes impunham um jugo pesado e sufocante. Suas casas ficavam em bairros às margens das cidades e raramente podiam aventurar-se sem o temor de serem capturados e presos, pois qualquer pretexto era motivo de irem parar nas cadeias dos Condados.

No dia 1º. de dezembro de 1955, Rosa Parks dá sinal e embarca no ônibus que a levaria para casa depois de um dia exaustivo de trabalho. Como na parte de trás, destinada aos negros, havia muita gente, Rosa sentou-se num dos bancos da frente do ônibus, exclusiva dos brancos. Por causa disso o motorista pediu que ela se levantasse, embora ali houvesse muitos assentos vagos. Rosa recusou-se a levantar, discutiu, e o motorista chamou a polícia que a levou presa.

A população negra de Montgomery, no Alabama, a cidade de Rosa Parks, iniciou um boicote às companhias de ônibus que durou 381 dias, causando um prejuízo de mais de U$ 1 milhão à época, até que, em novembro de 1956, a Suprema Corte declarou inconstitucional a lei de segregação racial dentro dos ônibus no Alabama. Este episódio vivido por Rosa Parks foi a partida de um movimento maior encabeçado pelo Reverendo Martin Luther King Junior, que tomou proporção nacional, fazendo de King, vencedor do prêmio Nobel da Paz em 1965. Muitos dizem que sem a sua ação no caso de Parks, King jamais alcançaria a notoriedade e sucesso na sua luta pelo fim da segregação racial, da forma como foi, e ele reconhecia isso.

Longe de ser uma oportunista, Rosa Parks teve a oportunidade de ficar conhecida como a mãe dos movimentos dos direitos civis, pois ao se recusar a continuar sendo discriminada, ela mostrou toda a sua inconformidade com aquela situação. O mundo, especialmente os negros americanos, deve, a Rosa Parks, um importante progresso de consciência política e humanitária. Em 1956 Rosa Parks impetrou ação contra o governo americano por discriminação, e sua vitória no processo foi um marco importante na história dos direitos civis americanos.

Muitas outras mulheres fizeram e fazem, no dia-a-dia, história com suas atitudes e seu comportamento, e mereceriam linhas e mais linhas contando suas vidas.

Alguns têm a mulher como o sexo frágil, mas qual homem que agüentaria um trabalho de parto? Mulheres são fortes por natureza e – à parte os movimentos feministas que querem direitos iguais para mulheres -, elas têm conquistado seus espaços seja no mercado de trabalho, seja na literatura, seja nas ciências e no cinema, entre outros postos importantes.

Muitos confundem as lágrimas fáceis de uma mulher como sinal de fraqueza ou falta de coragem, quando na realidade elas são a prova de que a mulher é emotiva, quando o homem é racionalismo puro, e para quem o choro é demonstração de fragilidade.

Numa entrevista em 1996, Rosa Parks afirmou que não achava direito e justo ser maltratada por quem quer que fosse e, naquela tarde de 1955, pensava que atitudes sua mãe e avó tomariam em seu lugar. Elas eram mulheres fortes e certamente se insurgiriam como ela o fez. Rosa tinha um histórico de recusas e humilhações na vida, pois diversas vezes tentara se registrar como eleitora e era sistematicamente recusada. Uma das suas afirmações era a de que se pagava o preço exigido para andar no ônibus, ela queria direitos iguais aos dos brancos, e não ser mais humilhada, como conta no livro Quiet Strength – Zondervam Publishing House, 1994.

Quando enfrentou o motorista branco do ônibus, Rosa Parks não chorou, olhou nos olhos dele e ele, envergonhando, desviou o olhar, preferindo chamar a polícia. Perguntada se faria de novo, ela singelamente respondeu que sim, e talvez antes, se tivesse tido a ousadia e a coragem de sua mãe e avó.

Rosa Parks morreu em 2005 aos 92 anos.

Todos direitos reservados ao autor.

I have a dream
Martin Luther King Jr.

1 de dezembro de 1955, Montgomery, Alabama, Sul dos Estados Unidos. Rosa Parks dá sinal e embarca no ônibus que a levaria para casa depois de um dia exaustivo de trabalho. Como na parte de trás havia muita gente, Rosa sentou-se num dos bancos da frente do ônibus. Por causa disto o motorista pediu que ela se levantasse, embora ali houvesse muitos assentos vagos. Rosa recusou-se a levantar e o motorista chamou a polícia que a levou presa. Rosa Parks era mais uma das vítimas da lei de segregação racial que vigorava no Alabama.

Rosa era uma negra.

Por conta da prisão de Rosa houve em Montgomery um boicote à companhia de transportes que durou mais de um ano e que pôs fim à discriminação nos transportes públicos. A frente dos protestos estava Martin Luther King Júnior, que pregava a não-violência como forma de protesto e modo de alcançar o que se desejava.

Martin Luther King Junior, esteve além do seu tempo e foi um batalhador incansável pela causa da integração racial e dos direitos dos negros nos Estados Unidos e seu desejo era uma sociedade americana justa e livre de preconceitos raciais. Era o pastor da Igreja Batista da Avenida Dexter, em Montgomery, Alabama, onde iniciou a sua cruzada pelos direitos civis das minorias.

Em 1956 sua casa foi explodida por uma bomba e uma multidão de negros enfurecidos formou-se em frente à casa, querendo fazer justiça com as próprias mãos aos que injustamente os perseguiam. King, usando sempre da sua política de não-violência, pediu que depusessem as armas e voltassem para suas casas, dizendo o que seria o seu lema: “Devemos responder ao ódio com amor”.

Por conta do seu ativismo e da sua liderança, King foi preso mais de dez vezes, algumas por motivos fúteis como excesso de velocidade, mas na realidade tudo era mero pretexto para o pressionar e fazer calar a sua voz.

Além de ser aprisionado, King era ameaçado de morte em cada lugar que ia, e dizia que se tivesse de morrer pela causa dos direitos civis, morreria. Em 1963 na celebre Marcha sobre Washington proferiu o discurso Eu Tenho um Sonho que serviria de marco definitivo para que os negros americanos conseguissem os seus direitos que eram tolhidos por leis segregacionistas e racistas.

“EU TENHO UM SONHO”
Há cem anos passados, um grande americano, sob cuja simbólica sombra nos encontramos, assinava a Proclamação da Emancipação. Esse momentoso decreto foi como um raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para terminar a longa noite do cativeiro.

Mas, cem anos mais tarde, devemos enfrentar a realidade trágica de que o Negro ainda não é livre. Cem anos mais tarde, a vida do Negro é ainda lamentavelmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação. Cem anos mais tarde, o Negro continua vivendo numa ilha isolada de pobreza, em meio a um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o Negro ainda definha à margem da sociedade americana, encontrando-se no exílio em sua própria pátria. Assim, encontramo-nos aqui hoje para dramatizarmos tal consternadora condição.
Em um sentido viemos à capital de nossa nação para descontar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as palavras majestosas da Constituição e da Declaração de independência, estavam assinando uma nota promissória da qual cada cidadão americano seria herdeiro. Essa nota foi uma promessa de que todos os homens teriam garantido seus inalienáveis direitos à vida, à liberdade e à busca da felicidade.

É óbvio que ainda hoje a América não pagou tal nota promissória no que diz respeito aos seus cidadãos de cor. Em vez de honrar tal compromisso sagrado, a América deu ao Negro um cheque sem fundos; um cheque que foi devolvido com a seguinte inscrição: “fundos insuficientes”. Nós nos recusamos aceitar a idéia, porém, de que o banco da justiça está falido. Recusamos acreditar não existirem fundos suficientes nos grandes cofres das oportunidades desta nação. Por isso aqui viemos para cobrar tal cheque – um cheque que nos será pago com as riquezas da liberdade e a segurança da justiça. Também viemos a este lugar sagrado para lembrar à América da veemente urgência do agora. Este não é o tempo para se dedicar à luxuria da postergação, nem para se tomar a pílula tranqüilizante do gradualismo. Agora é o tempo para que se tornem reais as promessas da Democracia. Agora é o tempo para que nos levantemos do vale escuro e desolado da segregação para o iluminado caminho da justiça racial. Agora é o tempo de abrir as portas da oportunidade para todos os filhos de Deus. Agora é o tempo para levantar nossa nação da areia movediça da injustiça racial para a rocha sólida da fraternidade.

Seria fatal para a nação não levar a sério a urgência do momento e subestimar a determinação do Negro. Este sufocante verão do descontentamento legítimo do Negro não passará até que ocorra o revigorante outono da liberdade e igualdade. 1963 não é um fim, mas um começo. Aqueles que crêem que o Negro precisava apenas se desabafar, e que agora ficará contente como está, terão um rude despertar se a Nação retornar à sua vida normal como sempre. Não haverá tranqüilidade nem descanso na América até que o Negro tenha garantido todos os seus direitos de cidadania. Os turbilhões da revolta continuarão a sacudir as fundações de nossa Nação até que desponte o luminoso dia da justiça.
Existe algo, porém, que devo dizer ao meu povo que se encontra no caloroso limiar que conduz ao palácio da justiça. No processo de ganharmos nosso lugar de direito não devemos ser culpáveis de atos irregulares. Não busquemos satisfazer a sede pela liberdade tomando da taça da amargura e do ódio. Devemos conduzir sempre nossa luta no plano elevado da dignidade e disciplina. Não devemos deixar que nosso criativo protesto degenere em violência física. Sempre e cada vez mais devemos nos erguer às alturas majestosas de enfrentar a força física com a força da alma. Esta maravilhosamente nova militância que engolfou a comunidade negra não deve nos levar a uma desconfiança de todas as pessoas brancas, pois muitos de nossos irmãos brancos, como evidenciado por sua presença aqui, hoje, estão conscientes de que seus destinos estão ligados ao nosso destino, e que sua liberdade está intrinsecamente unida à nossa liberdade. Não podemos caminhar sozinhos.

À medida que caminhamos, devemos assumir o compromisso de marcharmos avante. Não podemos retroceder. Existem aqueles que estão perguntando aos devotados aos direitos civis: “Quando vocês ficarão satisfeitos?” Não podemos ficar satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores incontáveis da brutalidade policial. Não podemos ficar satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados pela fadiga da viagem, não puder encontrar um lugar de descanso nos motéis das estradas e nos hotéis das cidades. Não podemos ficar satisfeitos enquanto a nobreza básica do negro passa de um gueto pequeno para um maior. Não podemos jamais ficar satisfeitos enquanto um Negro no Mississipi não pode votar e um negro em New York crê não existir nada pelo qual votar. Não, não, não estamos satisfeitos, e não ficaremos satisfeitos até que a justiça corra como água e a retidão também, como uma poderosa correnteza.

Não desconheço que alguns de vocês vieram aqui após muitas dificuldades e tribulações. Alguns de vocês recém saíram de diminutas celas de prisão. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade deixou em vocês marcas das tempestades de perseguição e fê-los tremerem pelos ventos da brutalidade policial. Vocês são veteranos do sofrimento criativo. Continuem a trabalhar com a fé de que um sofrimento imerecido é redentor.
Voltem ao Mississipi, voltem ao Alabama, voltem à Carolina do Sul, voltem à Geórgia, voltem à Louisiana, voltem às favelas e aos guetos de nossas modernas cidades, sabendo que, de alguma forma, esta situação pode e será alterada. Não vamos nos esconder no vale do desespero.
Digo-lhes, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento, ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Tenho um sonho que algum dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado de sua crença. “Afirmamos que estas verdades são evidentes; todos os homens foram criados iguais”.

Tenho um sonho que algum dia nas montanhas rubras da Geórgia os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos donos de escravos poderão sentar-se à mesa da fraternidade.

Tenho um sonho que algum dia o estado do Mississipi, um estado deserto sufocado pelo calor da injustiça e opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.

Tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.

Tenho um sonho, hoje.

Tenho um sonho que algum dia o estado de Alabama, cujos lábios do governador atualmente pronunciam palavras de interposição e nulificação, seja transformado para uma condição onde pequenos meninos negros, e meninas negras, possam dar-se as mãos com outros pequenos meninos brancos, e meninas brancas, caminhando juntos, lado a lado, como irmãos e irmãs.

Tenho um sonho, hoje.

Tenho um sonho que algum dia todo vale será exaltado, toda montanha e encosta será nivelada, os lugares ásperos tornar-se-ão lisos, e os lugares tortuosos serão direcionados, e a glória do Senhor será revelada, e todos os seres a verão, juntamente.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com a qual regresso ao sul. Com esta fé seremos capazes de tirar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé poderemos transformar as dissonantes discórdias de nossa nação em uma linda sinfonia harmoniosa de fraternidade. Com esta fé poderemos trabalhar juntos, orar, juntos, lutar juntos, ir à prisão juntos, ficarmos juntos em posição de sentido pela liberdade, sabendo que algum dia seremos livres.

Esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado: “Meu país é teu, doce terra de liberdade, de ti eu canto. Terra onde morreram meus pais, terra do orgulho dos peregrinos, de cada rincão e montanha que ressoe a liberdade”.

E se a América for destinada a ser uma grande nação isto deve se tornar realidade. Que a liberdade ressoe destes prodigiosos planaltos de New Hampshire. Que a liberdade ressoe destas poderosas montanhas de New York. Que a liberdade ressoe dos elevados Alleghenies da Pensilvânia!
Que a liberdade ressoe dos nevados cumes das montanhas Rockies do Colorado!

Que a liberdade ressoe dos picos curvos da Califórnia!
Não somente isso; que a liberdade ressoe da Montanha de Pedra da Geórgia!

Que a liberdade ressoe da Montanha Lookout do Tennessee!
Que a liberdade ressoe de cada Montanha e de cada pequena elevação do Mississipi.

De cada rincão e montanha, que a liberdade ressoe.
Quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar de cada vila e cada aldeia, de cada estado e de cada cidade, seremos capazes de apressar o dia quando todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, com certeza poderão dar-se as mãos e cantar nas palavras da antiga canção negra: “Liberdade afinal! Liberdade afinal! Louvado seja Deus, todo-misericordioso, estamos livres, finalmente!”

Ao optar por não atacar pessoas e sim preceitos e preconceitos segregacionistas e raciais, King mostrou ao mundo que a igualdade era possível, ainda que instigada por ódios incompreensíveis e repugnantes.

Entre todos os prêmios e lauréis que ganhou, o mais importante deles foi o prêmio Nobel da Paz em 1965. Celebrado e respeitado por muitos e odiado por outros – “vergonha para todo o mundo” foi a expressão utilizada por racistas do Sul dos Estados Unidos na ocasião.

Sua cruzada em busca da igualdade foi interrompida em 4 de abril de 1968, com um tiro no rosto dado por um branco na cidade de Memphis no Tennesse. O silêncio da cerimônia fúnebre de King trouxe uma profunda reflexão ao povo americano e impôs ao mundo uma nova ordem na área dos direitos civis. Não se podia matar impunemente – por mais dura que fosse a pena, a morte de King não seria reparada – que buscava direitos iguais para iguais, ainda que diferentes por causa da cor da sua pele, não se podiam transformar um embate num combate.

Não se podia conter ou exterminar uma busca pacífica de igualdade com balas letais, pancadaria e intimidação. Martin Luther King Junior deixou um legado de respeito e de admiração que é seguido por muitos. Na sua sepultura estão gravadas as palavras que ele pronunciou na Marcha Sobre Washington:

“FREE AT LAST, FREE AT LAST;
THANK GOD ALMIGHTY
I’M FREE AT LAST!”

“Enfim livre, enfim livre! Graças a Deus Todo-Poderoso sou finalmente livre!”


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