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Jehozadak Pereira

Volta e meia os devotos de Tolkien e dos Senhor dos Anéis resolvem ou me insultar ou então tentar convencer-me que não há misticismo ou esoterismo na obra – no bom sentido é claro – do professor. Este artigo postado abaixo foi escrito em 2001 e me rendeu muito xingamento, ameaças de todos os tipos e milhares de dentes arreganhados dos devotos.

O Senhor dos Anéis

“Se voce for fazer uma critica para ‘O Senhor dos Aneis’ tao ou igual a que fez para ‘Harry Potter’ posso lhe garantir que voce nao viverá mais sossegado na sua ‘doce e bela vida’. Caso voce nao saiba esse ano alem de ter o filme do Harry, terá tambem o filme do ‘Senhor dos Aneis’, nao é bem legal?”

“MAGO CLOW” magoclow@bol.com.br
Thu, 3 May 2001 14:47:46 -0300
Review do “artigo” Harry Potter – o oleiro maldito

O texto acima faz parte de um longo, maçante e importuno e-mail que recebi por conta da série de artigos sobre Harry Potter, que escrevi e que foram publicados neste e em outros espaços. Ri bastante com a pretensão e com o tom desafiador do “Mago Clow”, mas como sou um pouco teimoso e inconformado, já havia decidido escrever sobre J. R. R. Tolkien e O Senhor dos Anéis. Primeiro, meu compromisso é com a Verdade e depois como jornalista, não posso recuar diante da mentira e do engano. Eis aí as minhas razões e o meu artigo.

Quem foi J. R. R. Tolkien? John Ronald Reuel Tolkien, nasceu em 1892 na África do Sul para onde seu pai, cidadão inglês, havia sido transferido a trabalho. Morreu em dois de setembro de 1973 na Inglaterra. Tolkien foi um prolífico e criativo escritor e levou anos para idealizar e produzir sua contribuição literária ao mundo. Mais do que uma trilogia, o épico O Senhor dos Anéis representa a gênese das aventuras de RPG e de praticamente toda a literatura referente a mundos místicos e a seres mágicos.

Uma das criações de Tolkien, O Senhor dos Anéis (best seller desde sua publicação em 54), foi eleito o livro do século por europeus e norte-americanos. O Senhor dos Anéis é o relato de uma aventura maniqueísta entre o bem e o mal. Conta à história de Frodo Bolseiro, que empreende longa jornada pela Terra Média, para salvar um anel ameaçado pelo avanço das forças malignas, que buscam tomá-lo do seu guardião.

“Cuidado com dragões, gnomos e magos; eles estão por toda a parte. Essas criaturas já fazem sucesso há anos, seja no mundo fantástico criado pelo escritor inglês J. R. R. Tolkien, ou na recente série de livros do aprendiz de feiticeiro Harry Potter. Mas agora elas prometem conquistar um reino ainda maior. No Brasil, acaba de ser lançado Harry Potter e o Cálice de Fogo, o quarto volume de uma série escrita pela escocesa J. K. Rowling, que já vendeu cerca de 100 milhões de exemplares no mundo todo. E, no final do ano, deve estrear nos Estados Unidos, além de um filme com o aprendiz de feiticeiro, a primeira parte da trilogia de O Senhor dos Anéis, baseada na série de livros que consagraram Tolkien como o maior escritor de ficção fantástica da atualidade”.
(www.galileu.globo.com – Revista Galileu número 121)

Gnomos, elfos, dragões, misticismo, seres mágicos? Você deve estar se perguntando se tudo isto está na narração de Tolkien? Tudo isto e muito mais. Mas antes de continuarmos com os comprometimentos do Senhor dos Anéis, vamos ao filme. Somente o site http://www.lordoftherings.net, endereço oficial do filme na internet, teve em poucos dias mais de 420 milhões de acessos. As filmagens abrangem a trilogia completa ao custo de U$ 270 milhões, sendo que foram vendidos mais de 50 milhões de exemplares da trilogia no mundo inteiro. O esquema de marketing e publicidade do filme inclui a exibição de um trailer de vinte e seis minutos em seções especiais onde são convidados profissionais de imprensa e formadores de opinião, além de grandes verbas destinadas à divulgação. Especialistas estimam que o filme vai ter o maior faturamento da história do cinema em todos os tempos, o único e grande rival é exatamente Harry Potter – o filme, que deve ser lançado na mesma época. Afirmam ainda que Titanic não será páreo para O Senhor dos Anéis.

Voltemos aos comprometimentos. Embora os aficionados de Tolkien, estrebuchem juntamente com os potterianos há sim comprometimento espiritual nas respectivas narrativas. A reportagem da Revista Veja edição 1671 18 de outubro de 2000 http://www2.uol.com.br/veja/181000/p_158.htm, diz o seguinte:

“É aí que entra o segundo efeito colateral da mania Potter. Uma série de escritores de literatura infanto-juvenil vem pegando carona na vassoura do jovem mago, graças à descoberta dessa nova brincadeira – a leitura. À esperado terceiro volume, que chega em dezembro, as crianças vão às livrarias em busca de obras com temática semelhante. E acabam encontrando escritores fundamentais do gênero, que décadas atrás já haviam criado mundos tão encantados quanto aquele imaginado pela ‘mãe’ de Potter, a escocesa J.K. Rowling. Mestres no assunto, os autores Roald Dahl, C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien compõem a linha de frente desse time”.

A temática de Harry Potter é por demais conhecida e dispensa maiores comentários.

Numa famosa entrevista que Tolkien concedeu em 1971 para a rádio BBC de Londres algumas perguntas foram feitas a ele. O entrevistador foi Dennis Gerrolt para o programa Now Read On da BBC rádio 4. Eis algumas delas:

Gerrolt: Frodo aceita o fardo do Anel e ele encarna como grande caráter às virtudes de longo sofrimento e perseverança. Pelas ações dele a pessoa poderia dizer que existe quase um senso budista. Ele se torna quase um Cristo na realidade figurada de O Senhor dos Anéis. Por que você escolheu um Hobbit para este papel?

Tolkien: Eu não escolhi. Eu não fiz muitas escolhas quando escrevi a história… tudo que eu estava fazendo era tentar escrever uma continuação do ponto onde terminou O Hobbit. Eu escolhi porque já estavam em minhas mãos, às vezes acho que foi muito mais uma escolha deles do que minha.

Gerrolt: Realmente, mas não há nada mais particular sobre a figura de Cristo como Bilbo?

Tolkien: Não…

Gerrolt: Mas em face ao perigo mais apavorante ele luta e continua, e vence.

Tolkien: Mas isso me parece suponho, mais como uma alegoria da raça humana. Eu sempre fui impressionado pelo fato de nós estarmos aqui sobrevivendo por causa da coragem indomável de pessoas bastante pequenas contra desertos impossíveis, selvas, vulcões, bestas selvagens… eles lutam, de certo modo quase cegamente.

Gerrolt: Você pretendeu em O Senhor dos Anéis que certas raças deveriam encarnar certos princípios: a sabedoria de Elfos, a habilidade de Anões, a força dos Homens, e assim sucessivamente?

Tolkien: Eu não pretendi isto, mas quando você têm estas pessoas em suas mãos você tem que os fazer diferentes. Bem claro que como sabemos no final das contas todos nós conseguimos que a humanidade desse certo, e é só o barro primordial que nós temos. Nós devemos tudo – ou pelo menos uma parte grande da raça humana – ao trabalho de diferentes pessoas com diferentes habilidades. Eu gostaria de ter uma capacidade mental maior para poder criar arte mais elevada, assim o tempo entre a concepção e a execução seria encurtado… porém nós deveríamos gostar mais de tempos mais longos onde poderíamos criar mais. É por isso que, de certo modo, os Elfos são imortais. Quando eu usei o conceito de imortalidade, eu não quis dizer que eles eram eternamente imortais, somente que eles são “provavelmente imortais” e que sua longevidade tem seu contato direto com a habitabilidade da terra. O Anões é claro são bastante óbvios – você não diria que em muitas formas eles o fazem lembrar dos judeus? As palavras deles são obviamente semíticas, construídas para ser semíticas. Hobbits são pessoas inglesas rústicas feitas pequenas em tamanho porque reflete (em geral) o alcance pequeno da sua imaginação – não o alcance pequeno da coragem ou poder oculto.

Gerrolt: Há uma qualidade outonal ao longo de todo O Senhor dos Anéis em um momento um personagem diz que a história continua, mas eu pareço ter perdido o rumo dos pensamentos neste ponto… porém entendo que tudo esta enfraquecendo e ficando velho, pelo menos para o fim da Terceira Era tudo gira em torno de transformações. Agora isto parece ser um pouco como Tennyson “a velha ordem dá lugar a uma nova, e a vontade de Deus se cumpre em muitas formas”. Onde está Deus em o Senhor dos Anéis?

Tolkien: Ele é mencionado algumas vezes.

Gerrolt: Ele é o Um? (aqui Gerrolt está fazendo referência a Eru Ilúvatar, também conheçido como “O Um”, e não ao Um Anel. Ilúvatar aparece apenas em “O Silmarillion”).

Tolkien: O Um… sim.

Gerrolt: Você e um ateísta?

Tolkien: Oh, eu sou um católico romano. Católico romano devoto.

Vejam as questões: substituição de Jesus Cristo, terceira era, velha ordem, nova ordem, onde está Deus no Senhor dos Anéis? Eru Ilúvatar… respostas muito rápidas, sem convicção, pouco inteligentes para um homem com a capacidade mental e intelectual de Tolkien.

Sei não…

E depois vem dizer que não há a pretensão de se substituir Deus e seu Filho Jesus Cristo…

A íntegra da entrevista de Dennis Gerrolt pode ser lida no www.duvendor.com.br

Jehozadak Pereira

Efésios 5.6

Com o lançamento do filme Nárnia, principalmente no Brasil, um grande número de pessoas – principalmente os devotos de C. S. Lewis, se alvoroçaram literalmente. Minha caixa de e-mail ficou entulhada de mensagens de gente que se emocionou ao conseguir ver tantas semelhanças e literalidade entre os escritos, o filme e a Bíblia.

No entanto, houve quem não se deixasse levar pelos encantos desta obra esotérica, pagã e totalmente fora dos padrões bíblicos e espirituais. Houve um teólogo – destes que ostentam os seus mestrados, pós-mestrados, doutorados e pós-doutorados, teses e tantos títulos que só vendo, inclusive na área de divindade – que me escreveu querendo tripudiar. Aceitei a provocação dele e fiz uma única pergunta. Bem simples e singela, que ele com todos os seus títulos poderia me responder sem consultar livro algum.

Perguntei o que ele fazia com o que Paulo escreveu em 1 Timóteo 1.4; 2 Timóteo 4.4; Tito 1.14 e 2 Pedro 2.16, onde o autor se refere a fábulas engenhosamente inventadas que não eram seguidas pelos mestres cristãos genuínos. Essas histórias fantasiosas, possivelmente criações dos primeiros mestres gnósticos, que produziram os evangelhos apócrifos, são, aqui, contrastadas com o verdadeiro relato sobre a transfiguração de Cristo, segundo transmitido por Pedro. As fábulas, mencionadas em 1 Timóteo 1.4 eram provavelmente lendas baseadas em narrativas do Antigo Testamento, pois são descritas, em Tito 1.14, como judaicas. Tais fábulas são ridicularizadas em 1 Timóteo 4.7 pelos epítetos profanas e de velhinhas caducas; eram ímpias por não estarem baseadas na revelação divina; e só prestavam para mulheres velhas.

A resposta dele veio célere. Aquilo que Paulo disse nas referências citadas aplica-se somente às fábulas e mitos judaicos, e C. S. Lewis era fascinado pelos arcanos da mitologia nórdica. Portanto, o nosso bom doutor mestre em teologia e divindade, estava livre para crer que Paulo não falava sobre isto.

Pois é. Isto mesmo. Como pode um cristão genuíno recusar o que diz claramente a Palavra de Deus? Não quero julgar o douto homem e as suas convicções, mas que elas soam estranhas, isto soam.

Triste mesmo é ver tantos intelectuais cristãos fazendo pajelança e prestando reverências para esta trama esotérica escrita por Lewis. Fico imaginando o que leva tantos homens e mulheres que dedicaram a sua vida a estudar as sagradas escrituras, a corroborar e principalmente a “ver” tantas ferramentas que podem ser usadas para a pregação do evangelho nesta série nefasta.

Mais ainda, desafio qualquer destes intelectuais e pastores a apresentar uma única vida que tenha sido resgatada do pecado através das Crônicas de Nárnia. Tempos atrás eu vi um cristão genuíno dar uma lição nuns pastores que eu mesmo fiquei com vergonha por eles. Eles conversavam sobre vinhos. Um dos pastores disse que bebia vinho por causa do estômago, outro por causa do coração, já o outro por causa do colesterol, a aí o irmãozinho disse que bebia vinho porque gostava, e que uma garrafa durava dois anos para ele. Ou seja, quem gosta e não tem coragem de assumir, fica buscando desculpas e mais desculpas para corroborar o seu mau gosto, e pior ainda, trocam a pureza do Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo, por porcarias e lixo místico. Fico imaginando o teor das mensagens que eles pregam nos seus púlpitos e a qualidade da cátedra que ensinam nas escolas teológicas.

Estes intelectuais que são tão afeitos ao estudo, poderiam fazer mais uma coisa. Abrir Nárnia diante de um dicionário esotérico, e ver as – muitas – semelhanças de conteúdo entre ambos, depois abram as suas Bíblias – se é quem tem uma – e façam uma análise isenta e crítica. Duvido que encontrem qualquer passagem ou versículo que confirme Nárnia.

Embora tenha sido criado com um protestante, ao chegar a idade adulta rejeitou qualquer forma de fé religiosa e se descrevia como um agnóstico, e depois de muito conversar com Tolkien sobre religião a sua visão de Deus, não era o da ortodoxia cristã, e sim de um Deus das várias religiões orientais, quase portanto, panteísta, muito longe de qualquer discrição bíblica.

Com uma convicção panteísta de Deus, Lewis não podia e não queria abraçar o cristianismo ortodoxo, que na sua essência quer que se exerça a crença em Jesus Cristo, além da convicção de que Ele foi enviado para morrer para que as almas fossem salvas. Lewis dizia que todas estas coisas eram mito, e a história de Cristo, nada mais que uma lenda, um mito, e achava que os mitos eram na realidade mentiras. Considerados por ele como contos de carochinha. Esta afirmação pode ser lida em Memoirs of the Lewis Family, carta a Sheldon Vanauken, 17 de abril de 1951. Lewis se converteu em 1931, e conheceu Tolkien em 11 de maio de 1926, no Merton College na Inglaterra, e tornaram-se amigos. E por causa do inconformismo de Tolkien, por Lewis não ter se tornado um católico eles se afastaram posteriormente um do outro.

Foi com este estado de espírito que Lewis escreveu Nárnia, e jamais tornou atrás nele. Logo, é de se estranhar que tanta gente boa enrede pelos caminhos do esoterismo contidos na trama.

Não há como negar que C. S. Lewis foi um prolífico e criativo escritor cristão, incensá-lo é exagero e fanatismo. Escreveu mais de 40 livros, e exageros à parte seus aficionados estimam que foram vendidas mais de 200 milhões de cópias, traduzidas em mais de 30 línguas. Entre as suas obras estão: “Regresso do Peregrino”, “O Problema do Sofrimento”, “Milagres”, “Cartas do Inferno”, uma trilogia de ficção científico-religiosa “Longe do Planeta Silencioso”, “Perelandra”, “That Hideous Strength”.

Seus admiradores afirmam que os seus livros foram lidos pelos seis últimos presidentes norte-americanos, o que não é referencial algum. Todos nós sabemos que no governo Reagan, foi onde mais se teve a influência do ocultismo na cúpula do mais importante cargo da face da terra. Quem não se lembra das inúmeras reportagens afirmando que Ronald Reagan não dava um passo sem consultar uma famosa vidente.

Todos eles leram de tudo, de Brian Weiss à Deprak Shopra, fora os confusos gurus indianos, e até Paulo Coelho, foi lido, ou por acaso não nos lembramos de Clinton sendo fotografado com um livro do prolixo brasileiro nas mãos? Pesquisas indicam que o leitor contumaz ou eventual lê o que está na moda, ou o que lhes é recomendado sem muito critério.

Inclusive as Crônicas de Nárnia e seu misticismo explícito, ainda que tenham sido escritas por C. S. Lewis…

Copyright©2006 – todos os direitos reservados ao autor – janeiro/2006.

Jehozadak Pereira

Como preâmbulo deste artigo que escrevi tempos atrás, acrescento algumas considerações.

1. Ao filmar as Crônicas de Nárnia, a Disney quis agradar aos evangélicos?

Não, a Disney não quer agradar nenhum segmento religioso filmando As Crônicas de Nárnia. O interesse da Disney é meramente comercial.

2. As Crônicas de Nárnia é uma história cristã?

Não. Não é. Compare a trama com a Bíblia e jamais vai se encontrar por menor que seja qualquer coisa que se pareça com o cristianismo. Compare a trama com qualquer dicionário ou enciclopédia esotérica ou mística e vai ser possível encontrar muitas e muitas coisas relacionadas com o esoterismo, o misticismo, feitiçaria e bruxaria.

 3. C. S. Lewis não foi um escritor cristão?

Sim, após a sua conversão ele escreveu muita coisa boa, mas nunca renegou esta história esotérica, por mais que o defendam os seus devotos.

O irlandês Clive Staples Lewis, escreveu mais de 40 livros, e estima-se que da sua obra foram vendidos mais de 200 milhões de cópias, traduzidos em mais de 30 línguas. Entre as suas obras estão: “Regresso do Peregrino”, “O Problema do Sofrimento”, “Milagres”, “Cartas do Inferno”, uma trilogia de ficção científico-religiosa “Longe do Planeta Silencioso”, “Perelandra”, “That Hideous Strength”. Para crianças escreveu a série de fábulas “Crônicas de Nárnia” e nelas “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”. Considerado conto-de-fada cristão.

E é exatamente deste livro que quero tratar neste artigo. C. S. Lewis é considerado por muitos como o maior escritor cristão que o mundo já teve. Lewis é citado por pregadores, recomendado por homens influentes, estudado nas faculdades, nos seminários e nos institutos bíblicos. É comum ouvir em certos púlpitos mensagens onde Lewis é mais citado do que Jesus Cristo, e seus livros de referencial em lugar da Bíblia.

Há uma verdadeira febre e devoção a Lewis, muitos o incensam como o modelo ideal de escritor. Ateu desde a sua infância converteu-se ao cristianismo em 1929, na Igreja Anglicana, e é tido como o porta-voz não oficial do cristianismo, como se o cristianismo precisasse de um porta-voz, oficioso ou oficial a despeito de que o nominado seja C. S. Lewis.

Talvez Lewis tenha sido levado a este panteão por seus fiéis seguidores, que ignoram tantos outros nomes de relevância na pregação e divulgação do Evangelho ao longo dos séculos.

Será que podemos considerar este “laurel” como uma prova de fanatismo, semelhante aos seguidores e admiradores de Freud e Jung? Lembro aos meus leitores de que os seguidores de Jung o têm como um deus, e o consideram como o profeta escolhido dos deuses para dar-lhes o caminho da redenção. Que estes últimos tenham suas preferências vá lá, mas crentes o fazendo é no mínimo muito estranho.

Tempos atrás eu conversava com um amigo a respeito de Lewis e Tolkien, e ele me disse uma coisa que me fez pensar bastante. Desde quando o mundo secular elogia e respeita o que é nosso – ou melhor, o que se diz cristão, especialmente na área da literatura? Não é estranho que o mundo elogie um dos “nossos”?

Não estou discutindo a fé de Lewis, e nem as outras obras dele, estou expondo os problemas que existem em O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa. A trama é repleta de simbolismos, e ouso dizer que é uma história com fundo esotérico. Certamente esta afirmação vai provocar o espanto de muitos. Mas o que você diria duma história onde há faunos, um guarda-roupa que é um portal, ninfas, anões, dríades, Lilith – a tradição cabalística diz que Lilith, seria o nome da primeira mulher criada antes de Eva, não da sua costela, mas diretamente da terra, tal como Adão. – Somos todos os dois iguais, teria dito Adão; e após uma discussão, Lilith encolerizada, pronunciou o nome de Deus, e fugiu para iniciar a sua carreira demoníaca, ou que ainda Caim e Abel brigaram por causa de Lilith.

Alimento enfeitiçado, sátiros, centauro, minotauro, cavalo alado, náiades, unicórnio, um leão que morre e ressuscita, ogres, duendes, vampiros, espíritos que moram nas árvores, fantasmas, lobisomens, íncubo – demônio masculino que, segundo velha crença popular, vem pela noite copular com uma mulher, perturbando-lhe o sono e causando-lhe pesadelos – mortos que ressurgem para a vida, e finalmente uma feiticeira.

Mas não uma feiticeira qualquer. É uma feiticeira branca. Não se trata de ver o mal. A perversidade das trevas no escrito de Lewis, somente porque há a feiticeira, seja ela de qual cor for. O comprometimento é muito maior do que se pensa, além do que a Bíblia nos diz o que acontecerá com os feiticeiros, repito – seja lá de qual cor forem.

A feiticeira é o menor dos problemas…

Ao que parece, aqui quer se “santificar” a feiticeira branca, somente porque foi Lewis quem a colocou na história, e para muitos isto basta, afinal foi um homem “santo” quem o disse. Mas voltando aos comprometimentos do livro, este exército de demônios luta ao lado do bem – de Aslam, o leão que é morto e ressuscitado, contra o mal – a feiticeira.

A trama toda começa quando Lúcia entra no guarda-roupa mágico e quando se dá conta que está num país, onde é inverno o tempo todo. Dentro deste país – Nárnia, Lúcia conhece o Sr. Tumnus – um fauno – divindade campestre caprípede, cornuda e cabeluda – conforme a descrição do livro da cintura para cima parecia um homem, com pernas de bode, com pêlos pretos e acetinados, com cascos de bode no lugar dos pés e uma cauda.

Mas eu quero deter-me nas palavras da Professora Gabriele Greggersen que dizem literalmente o seguinte no seu artigo Um encontro e tanto: “Como autora de uma dissertação a respeito de O Leão, a feiticeira e o guarda-roupa, a primeira obra escrita da famosa série de contos-de-fada com fundo cristão – as Crônicas de Nárnia…”. Como pode ser cristão, um texto repleto de seres fantásticos? De seres advindos das trevas que lutam ao lado do “bem”?

Vejamos o que são os tais contos-de-fada na definição de quem entende e sabe o que significa. Nise da Silveira no seu livro Jung Vida e Obra escreveu o seguinte: “Jung diz que os contos de fadas têm as suas origens nas camadas mais profundas do subconsciente, comuns à psique de todos os seres humanos. Os homens sempre gostaram de histórias maravilhosas. Assim como as crianças. Afirma ainda que é salutar para os homens ouvirem a narração dos contos de fadas, e a narração de velhos mitos.

Jung prossegue dizendo que tanto os mitos quantos os contos de fadas são a mais perfeita expressão dos processos subconscientes. O homem pressentirá obscuramente que ali se espelham acontecimentos em desdobramento no seu próprio e mais profundo íntimo. Afirma que não se trata de acreditar nos feitos heróicos e nos encantamentos que as histórias descrevem, e que as verdades não são objetivas e sim verdades subjetivas, que são narradas na linguagem dos símbolos. Jung, porém tem consciência e admite que tanto as histórias quanto os mitos não passarão pelo crivo das exigências racionais. Finaliza afirmando que são essas ressonâncias que fazem no conceito dele o eterno fascínio dos contos de fadas”.

O professor e escritor Bruno Bettelheim define assim os contos-de-fada.“Os contos de fada, considerados por pais e educadores até pouco tempo como ‘irreais, falsos’ e cheios de crueldade, são para as crianças, o que há de mais real, algo que lhes fala, em linguagem acessível, do que é real dentro delas. Os pais temem que os contos de fadas afastem as crianças da realidade, através de mágicas e fantasias. Porém, o real, a quem os adultos comumente se referem, é o externo, é o mundo circundante, enquanto que o conto de fadas fala de um mundo bem mais real para as crianças. Durante muito tempo, os contos de fadas jazeram esquecidos, desprezados e banidos sob alegação de irreais e selvagens, em vista de suas tramas sempre altamente dramáticas. Depois que a psicologia desmistificou a inocência e a simplicidade do mundo das crianças, os contos de fadas voltaram a ser lidos e discutidos, justamente por descreverem um mundo pleno de experiências, de amor, mas também de destruição, de selvageria e de ambivalências. A psicanálise provou que os pais temem que seus filhos os identifiquem com bruxas e monstros, ogres e madrastas e com conseqüência os deixe de amar. Porém ao contrário, podendo vivenciar tudo, identificando-se e os pais com os personagens dos contos, os filhos têm sua agressividade diminuída, podendo amar os pais de maneira mais sadia. O conto assim contribui para um melhor relacionamento familiar. Entretanto, a maior contribuição dos contos de fadas é em termos emocionais, propondo-se e realizando concretamente quatro tarefas: fantasia, escape, recuperação e consolo. Desenvolvem a capacidade de fantasia infantil: fornecem escapes necessários falando aos medos internos da criança, às suas ansiedades e ódios, seja como vencer a rejeição (como em João e Maria) ou os conflito edípicos com a mãe (como em Branca de Neve) ou a rivalidade com os irmãos (como em Cinderela) ou sentimento de inferioridade (como em As Três Plumas). Os contos aliviam as pressões exercidas por esses problemas; favorecem a recuperação, incutindo coragem na criança, mostrando-lhe que sempre é possível encontrar saídas. Finalmente os contos consolam e muito: o final feliz, que tanto adultos consideram irreal e falso é a grande contribuição que os contos favorecem as crianças, encorajando-as à luta por valores amadurecidos e a uma crença positiva da vida”.

A mim me parece deslealdade, afirmar que o fabulário mundial está repleto de seres e entidades demoníacos, e ao mesmo tempo dizer que não há problemas em se aceitar isto como regra de fé e prática, pois afinal tudo é “fantasia”.

Mas quem precisa de fantasia? Já ouvi algumas vezes, que Aslam, é o protótipo de Jesus Cristo, pois ele morre e ressuscita, para resgatar a vida de muitos. Ouvi inclusive relatos emocionados acerca disto. Outro fato que emociona a muitos é quando Aslam convoca a todos para derrotar o mal – ou a feiticeira. E desde quando o bem personificado em Jesus Cristo precisa da companhia de ratos e um leão fedorento para vencer o mal.

Mas como o mal pode vencer o mal?

Centauros, unicórnios, cavalos, gigantes, anões, bichos menores, faunos, leões, cães, compunham o exército de Aslam, na sua luta contra o mal. Não preciso dizer que muitos destes são demônios literais. E vejam que não sou eu quem o digo. E muito menos fui eu quem os colocou ao lado de Aslam.

Qualquer dicionário de esoterismo pode dizer o que é um centauro ou mesmo um unicórnio, ou esclarecer ainda o que é um fauno ou um sátiro. Outro dia recebi um e-mail falando que a Bíblia cita em Isaías 34.14, a palavra sátiro. Queriam me mostrar e convencer de que o simples fato de a Bíblia citar é o suficiente para corroborar e confirmar o uso do termo por Lewis.

Que queiram acreditar e mais ainda, crer que o livro O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, é um “poderoso” instrumento de evangelização e uma “alegoria” do Evangelho, que creiam, mas desde quando o Evangelho precisa de “alegoria”? Desde quando um livro repleto de citações de demônios pode ser uma “alegoria” do Evangelho?

Se isto – demônios for “um poderoso” aliado do Evangelho o que vamos fazer com Hebreus 4:12? Que Palavra VIVA é esta que precisa do suporte de demônios para ser pregada? Que Palavra EFICAZ é esta que precisa de “alegoria” para ser aceita? Que Palavra CORTANTE é esta que necessita de apoio na mitologia e no misticismo?

As semelhanças de Aslam com Jesus Cristo são muitas. Uma delas é chocante. Quando Aslam morre a Mesa de Pedra se rompe e parte em dois pedaços; “Mas, se fosse um pouco mais longe, de penetrar na escuridão e no silêncio que reinam antes da aurora do tempo, teria aprendido outro sortilégio. Saberia que, se uma vitima voluntária, inocente de traição, fosse executada no lugar de um traidor, a mesa estalaria e a própria morte começaria a andar para trás… E agora…”

Qual foi o inocente que fez romper o véu? Que traído e inocente foi sacrificado para vencer o mal? Certamente muitos me contestarão, mas com certeza não responderão ou não terão argumentos para dizer que em O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa, não há misticismo e criaturas fantásticas. Certa vez eu escrevi um artigo repercutindo uma matéria publicada na Revista Veja, que citava Lewis e Tolkien, como autores de literatura semelhante à de J. K. Rowling, a nefanda autora de Harry Potter. Foi o suficiente para que recebesse uma enxurrada de e-mails desaforados defendendo Lewis.

Com certeza desta vez emitirão uma fatwa contra mim. Mas não me importo. O que me importa é a verdade é dizer em alto e bom som que em O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa, há contaminação espiritual, a começar do guarda-roupa que é um portal esotérico e a findar em Aslam, em nome de quem se deseja que as aventuras continuem.

Perigosas aventuras…

Copyright©2003 – todos os direitos reservados ao autor – agosto/2003


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